Quem é ela? (Ou A Penetra )

Ela chegou na festa que acontecia em um lindo sítio todo decorado, enorme, em um sábado ensolarado dirigindo um belo carro esportivo, cor azul intenso e brilhante, modelo conversível, duas portas. Alta e curvilínea, ar jovial talvez uns trinta e poucos anos , ela usava um vestido chamativo, florido, um colar com pingente que brilhava muito e sapatos charmosos de modelo antigo e com salto largo e confortável. Bem maquiada, usando um perfume gostoso e doce , estava com cabelos preso de apenas um lado com uma delicada presilha, ela chegou sorridente chamando atenção.

Todos a notaram. A festa duraria o dia todo, ela sabia disso. Começou com um café da manhã daqueles de hotel e seria servido mais tarde um leve almoço, depois café da tarde e chá , não havia hora certa para terminar.

Louise é o nome dela, dessa penetra profissional. Uma picareta agradável e sorridente que adora comer de graça, curtir uma festa, desfrutar de uma “boca livre” e depois de aproveitar todos os momentos ir embora sem alarde.

Ela usa diferentes nomes dependendo da ocasião. Ela finge também ser estrangeira, arranha um espanhol esquisito e fala um inglês macarrônico, mas não sei como, ela convence. Ela tem um aparelho celular reserva e quando precisa compra um chip para esse aparelho. Número que pode ser descartado depois de alguns dias.

Alguém comenta sobre uma festança que vai acontecer e ela simplesmente escuta prestando atenção nos detalhes e faz planos.

Ela tem alguns poucos vestidos bonitos guardados há muito tempo mas bem cuidados, o colar e o pingente com foram a única herança que recebeu da avó materna que ela adorava. A bolsa de grife é falsa ela comprou em uma loja que vendia falsificações perfeitas com a etiqueta verdadeira, réplica que mesmo que vista de perto parecia original.

Garimpar em brechós é a especialidade dela. Neles se encontra peças e acessórios de marcas, de coleções anteriores, em ótimo estado por e preços baixo.

O carro ela alugou. Ela está acostumada a alugar carros na agência de um “peguete”. Eles saíram algumas vezes, ele encantado por ela, dá descontos nas diárias. Ela usava o carro por um ou dois dias, no máximo. Há jeitinho para tudo, segundo Louise.

Nas festas é comum ela falar com todos, dar sorrisos, distribuir simpatia, como se fosse íntima dos anfitriões que devem ficar se perguntando depois: “quem era aquela mulher?”

Ela come de graça, ganha lembrancinhas e mimos das festas e até convite para outros eventos e churrascos já recebeu. Não sei como ela consegue pescar algumas informações sobre quem era o aniversariante ou o casal e em segundos estava integrada no ambiente.

Eu escutava tudo e ria. Eu sabia qual era a estratégia porque ela havia entrado em uma festa que eu estava, ela não havia sido convidada, havia lista com os nomes dos convidados e seguranças na porta, mas ela conseguiu entrar. Que proeza.

Dessa vez ela não estava dirigindo. Para minha surpresa nos encontramos lá dentro, ela tomando um drinque e dançando loucamente na pista. Se eu tivesse apostado com ela que jamais seria possível entrar naquela boate perderia. Nunca consegui saber como ela entrou, dessa vez ela não contou nada. A dona da festa, minha amiga, que estava levemente alcoolizada, que costuma dar festas incríveis e onde ninguém conseguia entrar sem convite deve ter imaginado que ela havia entrado acompanhada com algum cara.

Achei incrível que ela apareceu em muitas fotos e a dona da festa só teve certeza que ela não havia sido convidada dias depois, sóbria, ao ver as fotos e comentar com amigas e amigos que ninguém sabia ao certo o nome da convidada. Surpresa, a anfitriã, se deu conta que mesmo pagando seguranças e com lista de convidados na porta a safada havia furado seu esquema. Nesse caso ela não ficou brava. Ela ficou encantada com a esperteza, foi a única pessoa sem convite que passou pelos seguranças, que colocavam uma fitinha de identificação no pulso de cada convidado, eu não contei para ninguém que eu que sabia quem ela é.

Uma colega em comum nos apresentou há muito tempo. Nenhuma das três era rica, na época eu ainda fazia faculdade e estágio, ganhava muito pouco. A achei simpática, engraçada e divertida. Trocamos contatos.

Louise que às vezes também usa o nome de Telma brinca que queria muito ser atriz de cinema e por isso adora fazer laboratório, ou seja, frequentar lugares para conhecer pessoas, estudar como determinados profissionais atuam e com isso elaborar uma personagem. Ela fez poucas aulas de teatro em uma biblioteca, de graça, onde também aconteciam aulas de dança no auditório.

Ela trabalha como corretora de imóveis, mora com uma amiga em apartamento pequeno, tem o nome na SERASA e divide com dificuldade o pagamento do aluguel.

Ela é experiente na arte da trapaça sem vítimas. Ela afirma que não faz mal à ninguém que é um tipo de ilusionista. Ela se diverte, conhece gente nova, as festas têm comida boa, bebida à vontade e dão um colorido para a vida monótona de trabalhadora com um ridículo salário fixo e cheia de boletos que não param de chegar.

Ela consegue fazer diferentes maquiagens, penteados no cabelo e arrumações. A roupa ela pega emprestada, ela monta praticamente um figurino. Outro dia a reconheci num vídeo de uma festa, ela usava chapéu e um vestido lindo. Eu vi a cena e gargalhei.

Quem olha pensa que além de além de convidada ela é rica. Ela faz questão de ostentar a bolsa falsa ou o carro de luxo, que ninguém imagina que é alugado porque as , segundo ela, julgam o que a pessoa parece ser.

O segredo é caso alguém faça alguma pergunta desconversar e ir ao banheiro da festa. Ela conseguiu entrar em eventos grandes, em lugares finos, conversar inclusive com artistas famosos. Eu sei porque ela que não se importa em tirar fotos, porém aparece nas fotos dos outros. As câmeras fotográficas parecem gostar dela. Fotogênica naturalmente, ela simplesmente brilha, sem esforço.

Eu brinco dizendo que qualquer hora ela vai conhecer alguém nessas festas. Um homem ou uma mulher rica, e vai ter uma oportunidade, um convite ou proposta. Ela apenas sorri. O sorriso dela é iluminado, ela é mesmo uma pessoa encantadora.

Manuh Danorte
Enviado por Manuh Danorte em 28/06/2024
Código do texto: T8095667
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2024. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.