Entre Sem Bater - Os Perdedores

Donald Trump disse;

"... por que eu deveria ir a esse cemitério? ele tá cheio de perdedores ! ..."(1)

O ex-presidente estadunidense, certamente, é um mentiroso(2). Embora ela tenha este e muitos outros defeitos, muitas pessoas gostam dele; porque ele verbaliza aquilo que estas pessoas pensam. Em suma, se uma pessoa, político ou não, fala mentiras e outras apoiam, é porque estão no mesmo nível de desqualificação. Este texto usa um pensamento que é uma espécie de sincericídio, e é provável que seja um sentimento real. O que impressiona é o fato de que muitos destes pensamentos abomináveis(*) repetem-se em outros políticos igualmente execráveis.

OS PERDEDORES

É impressionante como déspotas, perdedores ou não, se assemelham nos seus discursos e pensamentos. Com toda a certeza, alguns são piores do que os outros, e despejam toda a sua sinceridade para seus seguidores néscios sem limites. O debate entre Trump e Biden revelou que o déspota menos pior caducou na data de validade e mentalidade. Em outras palavras, o sujeito não consegue juntar o tico e o teco, não fala coisa com coisa.

Por outro lado, o seu opositor, Trump, que está na lista de mandatários perdedores com situação inédita, deita e rola na enganação(3).

A princípio, tenho algumas premissas que me orientam para não me perder no próprio discurso. Assim como a ideia de que é necessário mentir um pouco(4) para alinhar o próprio discurso pode parecer uma contradição. Entretanto, além de não ser contradição, é relevante utilizar de mentiras e depoimentos sinceros, até de gente estúpida como Trump. Desta forma, a ideia aqui é dizer que perdedores e vencedores não podem, em nenhuma hipótese, terem a classificação deste povo.

Quando um presidente faz uma fala de que não é coveiro e que não se importa com os que estão no cemitério, comete um crime. E quem aplaude, apoia ou até mesmo se cala ante este tipo de frase e comportamento é, analogamente, criminoso e sem honra.

SUERFICIALIDADE

Em primeiro lugar, a superficialidade das redes sociais e a deturpação dos conceitos de vencedores e perdedores, na atualidade, merecem muita reflexão. Certamente, a utilização de termos e palavras evolui em todos os idiomas no mundo, até mesmo para o que não é gíria ou coloquialismo.

Trump, ao avaliar se visitaria um cemitério na França, ilustra claramente a visão turva dele sobre o valor humano e o sucesso. Essa percepção, com ampla reprodução nas redes sociais, redefine, atualmente, o que significa ser um "vencedor" ou "perdedor".

As redes sociais, em sua essência, deveriam ser plataformas para a interação e compartilhamento de informações. No entanto, a forma como utilizamos essas plataformas nos leva a uma superficialidade extrema e cruel. Perfis mostram, cuidadosamente, apenas o melhor lado das vidas das pessoas. Como se não bastasse, fotos com retoques, conquistas questionáveis e vidas aparentemente perfeitas criam imagens irreais.

Essa superficialidade se torna perigosa quando começamos a julgar nosso próprio valor e o dos outros com base nessas aparências e filtros. A pressão para se conformar a esses padrões pode levar a sentimentos de inadequação, ansiedade e depressão. Jovens, em particular, são vulneráveis a essa pressão, crescendo sem a mínima noção do que é ser parte dos vencedores e perdedores.

DETURPAÇÃO TOTAL

A frase de Trump reflete o senso comum na nossa sociedade: a ideia de que sucesso mede-se pelo status social, riqueza e poder. Aqueles que não alcançam esses critérios têm, frequentemente, a classificação de "perdedores", e não são. Essa visão amplifica-se onde a vida de celebridades, influenciadores e figuras públicas é um "padrão" de sucesso.

Contudo, essa noção é profundamente falha, grotesca e bem a propósito da geração de hedonistas que dominam as redes sociais. Medir o valor de uma pessoa pelo seu sucesso externo degenera as qualidades intrínsecas que realmente importam. Atitudes como honra, integridade, bondade, e resiliência deveriam ser a principal referência. A verdadeira métrica de um vencedor deve considerar a capacidade de uma pessoa de superar adversidades. Além disso, as contribuições positivas para a sociedade como um todo, mesmo pretéritas, deveriam ter destaque e importância.

PERCEPÇÃO DE SUCESSO

As redes sociais exercem, atualmente, um papel central na forma como a opinião pública define os vencedores e os perdedores. Plataformas como Instagram, Tik Tok e Twitter estão sob domínio de figuras que exibem glamour e "verificações", normalmente por pagamento. Influenciadores com milhões de seguidores parecem ter uma vida perfeita, com viagens constantes, eventos exclusivos e muita aparência sem conteúdo.

Essa exibição constante de riqueza e status cria verdadeiros ambientes falsos e muitas vezes segregacionistas. Usuários comuns, ao compararem suas vidas com essas imagens, podem sentir que não estão à altura e se frustram inutilmente. A necessidade de "likes" e "seguidores" se torna uma medida de sucesso, levando muitos a abandonarem seus verdadeiros desejos ou valores. Surpreendentemente, essas pessoas assumem o rótulo de perdedores, de forma imprópria.

O PAPEL DAS FIGURAS PROEMINENTES

Figuras proeminentes como políticos, celebridades, subcelebridades e influenciadores têm uma grande responsabilidade na formação da opinião pública. Quando essas figuras promovem a ideia de que o sucesso se mede pelo status, contribuem para a perpetuação dessa visão superficial. Desta forma, eles também têm o poder de redefinir esses conceitos, promovendo uma visão que seja mais racional. Entretanto, dificilmente, veremos estas pessoas pensando coletivamente ou em prol da sociedade e menos em si próprio.

Certamente, quando figuras públicas falam abertamente sobre suas lutas pessoais, falhas e vulnerabilidades, elas seguem um script. Em outras palavras, ao humanizar a própria experiência de vida reforçam a noção de que sucesso é sinônimo de perfeição. No caso de Trump, pode ser tudo, menos de que seja perfeição ou correção com atividades honestas e que demonstram honradez. No caso do clone tupiniquim do político estadunidense é muito pior pois a versão brasileira nunca trabalhou direito em nada.

ANTAGONISMO

Por outro lado, o comportamento antagônico tem poucos representantes, que sofrem restrições e ataques em quantidade absurda. A reversão deste quadro é, inegavelmente, uma tarefa difícil de avançar e se reproduzir para fazer frente às mentiras e sandices. Desta forma, fica mais fácil as pessoas aceitarem-se como perdedores, que nunca foram ou serão.

Isso (a reversão) poderia encorajar as pessoas a uma cultura mais autêntica, sincera, inclusiva e compassiva. Desta forma, teríamos o valor humano com análise não apenas por conquistas externas, mas também por ações positivas para a coletividade. Enfim, é necessário muita cooperação e compreensão para redefinir esses conceitos e construir uma sociedade melhor. Vencedores e perdedores, com toda a certeza, não se definem pela popularidade momentânea, mas pelo que deixam de positivo para o futuro.

As ideias sinceras e como se expressam os vencedores e os perdedores, nem sempre, representam aquilo que cada povo merece. E, sinceramente, quem defende essas ideias de classificação dos perdedores e vencedores é muito pior do que seus ídolos e mitos.

"Amanhã tem mais ..."

P. S.

(*)  Trump promoveu e ainda promove teorias da conspiração e fez muitas declarações falsas e enganosas durante as suas campanhas. Suas mentiras para chegar à presidência foram e se apresentam num grau sem precedentes na política estadunidense.

(1) "Entre Sem Bater - Donald Trump - Os Perdedores" em https://evandrooliveira.pro.br/wp/2024/06/28/entre-sem-bater-donald-trump-os-perdedores/

(2) "Entre Sem Bater - Epicteto - Os Mentirosos" em https://evandrooliveira.pro.br/wp/2024/06/25/entre-sem-bater-epicteto-os-mentirosos/

(3) "Entre Sem Bater - Jacques Abbadie - Lei do Engano" em https://evandrooliveira.pro.br/wp/2024/05/09/entre-sem-bater-jacques-abbadie-lei-do-engano/

(4) "Entre Sem Bater - Adélia Prado - Mentir um Pouco" em https://evandrooliveira.pro.br/wp/2024/06/27/entre-sem-bater-adelia-prado-mentir-um-pouco/