(Ah)posentadori(ai)

 

Chegou o último dia, o dia da aguardada e desejada aposentadoria, da cesta com caneca e doces dada pelos colegas de serviço. A última vez em que a xícara do café será lavada, a sala arrumada, o cartão batido e o busão pago. São 17 horas, tchau antiga vida de labor e compromissos, de correria e de acordar cedo no inverno. Liberdade!

 

Ah, a partir de amanhã, tempo livre e salário menor. Salário menor? Ai. Quase esqueceu desse detalhe sórdido, né? Nada é perfeito num mundo perfeito de sociedade imperfeita. Pelo menos a aposentadoria aconteceu e será eterna enquanto durar o aposentado. Até já dizem por aí que no futuro as pessoas não se aposentarão. Sim, a IA comerá quase todos os empregos e, os que sobrarem, não serão pra pessoas com mais de 50 anos, mesmo a aposentadoria sendo aos 65. Aposentado é uma espécie em extinção. Os velhinhos do futuro não serão aposentados, mas desempregados crônicos, virarão filhos dos filhos.

 

Só os empreendedores sobreviverão. Sobreviverão, mas não viverão. Só os grandes empreendedores viverão. E, via de regra, os aposentados das forças armadas, do judiciário e da segurança pública. Aos demais, choro e ranger de dentes - pra quem não for banguela, eis que o SUS tá na mira também.

 

Isso tudo porque o estado mínimo não pode bancar os gastos previdenciários do povão, pois os rendimentos máximos do capital financeiro são mais importantes para o futuro da nação neste mundo perfeito de sociedade imperfeita.

 

Todavia, esse é um mundo em construção, oremos e obremos.