Caso de Família

Naquele sábado ao meio dia estávamos almoçando...lembro-me bem...

Na cabeceira do lado esquerdo, a minha esquerda estava o tio Ademar, degustando a sua Gurijuba com pimenta, onde em seguida vinha o Ginoca, eu, o Vum e na outra cabeceira, bem a nossa direita estava o Vado e na sequência se podia ver o mano.

A tia acabara de colocar um prato com bife seguido com macarrão, arroz e feijão. Uma saladinha, acompanhada de batatas fritas, onde cada qual, em seu tempo se serviu.

Enquanto o tio calado degustava o seu peixe, vovó Nazaré fazia o seu prato e a tia ia tomar banho.

A mesa, cada um comendo o seu quinhão e após a oração falávamos de futebol, até porque iríamos jogar mais tarde na rua.

O Adevaldo comia e fazia a escalação no papel, quando do nada começamos a rir.

Incomodado com a anarquia na mesa alterando a voz, ele reclamou:

- Vocês já vão começar com isso?

Sem conseguir se conter ou calar, nós três nem conseguimos responder, de tanto que estávamos envolvidos naquela sombra... astral de risos.

Essa atitude irritou ele, no exato momento, em que o Vum, com a guludisse dele, ainda rindo enfiou na garganta um pedação de bife.

Tomado pela reclamação do Vado, Mano também se pronunciou irritado e batendo na mesa resmungou:

- Cara vocês não respeitam...nem na hora do almoço vocês sossegam. É esse qui, qui, qui toda vez... e o Adevaldo também, se achando o dono da casa reclamando a toda hora... caramba.

Confusão na mesa, um falando daqui, outro dali, não

podia dar outra.

Vum se engasgou com a carne ao rir e comer, enquanto eu e o Higino riamos ainda mais.

A discussão perdeu-se no socorro, pedido por Vum, sem ar, pois estava entalado com a carne.

Nessa hora, mesmo do modo errado Vado foi rápido e preciso. Deu um violento baque com a mão fechada na costa de Vum, que a carne foi parar lá no chão e sem demorar muito na exposição, Tchuca, a cadelinha branquinha da casa, não quis nem saber e meteu a carne na boca engolindo com voracidade. Isso gerou mais risos em nós e mais irritação neles.

Fazendo o tio Ademar se exaltar, vovó Nazaré passar um ralho e a tia, enfezada sair do banheiro desesperada já relando a mão em nós e expulsando os maiores da cozinha pra acabar a confusão.

Nós, os financiadores de toda aquela questão, nos refizemos da peia e saímos de mansinho.

Lá pela frente da casa, despistamos e sorrateiramente fomos pelo labirinto dos becos, que conhecíamos a nos levar a ameixeira, lá no morrinho.

Lá, enfiado nos galhos, feitos macacos, enquanto o sol baixava e a chuva da tarde em Belém se organizava, jogávamos conversa fora e continuavamos a rir, daquilo que nem sabíamos.

Embora em casa, mesmo com a raiva estabilizada e a tia distraída conversando com a dona Amelinha, vizinha do lado, que ouvira o barulho da confusão, o tema abordado não poderia ser, se não, o porquê dos risos e uma sugestão dessa vizinha, de punição para nós três.