CERTEZAS DO MESMO REVÉS
Somos todos farinhas do mesmo saco,
dedos da mesma mão, laranjas do mesmo pomar.
Somos todos dentes da mesma boca,
brasas da mesma fornalha, lamentos da mesma dor.
Somos todos suores do mesmo esforço,
debandadas da mesma manada, vãos do mesmo segredo.
Somos todos arremates da mesma obra,
vazios da mesma espera, pilastras do mesmo motim.
Somos todos rimas da mesma canção,
fardos do mesmo encargo, certezas do mesmo talvez.
Somos todos cacos da mesma miséria,
louros da mesma vitória, pétalas do mesmo querer-bem.
Somos todos afagos da mesma paz,
respingos da mesma enxurrada, ciladas do mesmo revés.
Somos todos gomos da mesma loucura,
assombros da mesma razão, farpas do mesmo adeus.