O tempo do Espelho

Olho para o espelho e vejo meus 43 anos refletidos no rosto. Não há rugas profundas, mas os traços já não são os mesmos de outrora. O que antes era jovialidade e firmeza, agora é uma marca sutil de tempo, de experiências vividas e de histórias que se acumulam. O que era força e movimento, agora é cansaço e solidão. Lembro-me de quem eu era na escola, aquele jovem cheio de sonhos e de certezas. O tempo passou rápido demais desde então. As escolhas, os caminhos que segui, tudo deixou suas marcas, boas ou ruins.

 

Não são apenas as marcas na pele que me contam sobre o passar dos anos, mas também a maneira como encaro a vida, com mais calma e sabedoria, fruto das vitórias e das cicatrizes emocionais. Envelhecer é mais do que um processo físico; é uma transformação interior profunda. As prioridades se reorganizam, os valores se consolidam, ou se desfazem. Os medos já não são os mesmos da juventude, mas surgem novos desafios, novos medos. A maturidade traz consigo uma compreensão mais ampla das complexidades da existência, uma aceitação das imperfeições que antes pareciam inaceitáveis.

 

O tempo é o maior tesouro que carrego. As amizades verdadeiras resistiram ao tempo, mesmo que a distância física tenha separado alguns de nós. Os contatos que cultivei ao longo dos anos são como fios invisíveis que nos conectam, mesmo quando a vida nos leva por diferentes caminhos. E os meus filhos, que são a minha maior realização, são também meu espelho mais claro do tempo que passa.

 

O tempo e sua solidão: ser divorciado trouxe desafios e aprendizados que jamais imaginei enfrentar. A solidão inicial deu lugar à redescoberta de quem eu sou como indivíduo, além dos papéis de pai e ex-cônjuge. Aprendi que a vida é feita de recomeços e de oportunidades de crescimento pessoal que surgem nos momentos mais inesperados. Aprendi com o tempo, a lidar comigo mesmo.

 

Os meus dois filhos me ensinam constantemente porque eu estou aqui, agora. Minha existência se completa com esses dois tesouros que o tempo me trouxe. Sou cristão, e creio na existência de Deus e de seus designios, por isso sei que foi o Pai Criador quem me trouxe esses presentes e outros. Essas lutas e outras. Deus é bom e vejo seus dedos em cada passo que eu dou ao lado dos meus filhos. Quem sou eu? De onde vim? Para onde vou? São perguntas que faço para Deus, e que ele responde com a própria vida. Com o próprio tempo.

 

Hoje, olhando para trás e para frente ao mesmo tempo, percebo que cada fase da vida tem sua beleza e suas dificuldades. O tempo, implacável em sua passagem, também é generoso ao nos presentear com a sabedoria que só ele pode oferecer. E é nessa jornada de autoconhecimento e aceitação que encontro o verdadeiro significado de envelhecer: não apenas acumular anos, mas também amadurecer a alma.

 

Assim, diante do espelho, reconheço não apenas meu rosto, mas também a história que ele carrega. E sigo adiante, grato pelo que fui, pelo que sou e pelo que ainda posso me tornar. Tudo flui. A vida, o tempo, o eu.

Prof Eduardo Nagai
Enviado por Prof Eduardo Nagai em 26/06/2024
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