Medíocre
Dois velhos conhecidos encontram-se e trocam saberes sobre a vida.
- Eu estou revoltado com a imprensa. Com a Folha, o Estadão e o Globo. Eu não sei nem como classificar o motivo da minha revolta.
- Você está aborrecido com os erros? Os erros primários que persistem?
- Sim, mas dessa vez o caso é mais grave. Na semana passada, perdemos o grande ornitólogo brasileiro, o Dalgas Frisch, uma referência internacional.
- Eu vi no G1. O pioneiro da conservação da fauna brasileira. Publicou vários livros, alguns com seu pai e com o seu filho.
- Eu procurei na Folha, no Estadão e no Globo, mas não encontrei nem sequer uma linha falando de sua morte e de sua imensa contribuição ao avanço da ornitologia no Brasil. Por que esse desprezo pelos nossos verdadeiros heróis?
- Mas garanto-lhe que encontrou várias chamadas sobre as mais recentes peripécias de Jojo Todynho, Luana Piovani, Rafaella Justus, Gretchen e seus ex-maridos, Nego do Borel, Eliana, Lucas Souza e seu amante etc.
- Exatamente. Sobre esses e outros há sempre ao menos uma matéria. E o nosso Dalgas não recebeu coisa alguma. Não é desanimador? Não é triste viver em meio a valores invertidos?
- Você lembra-se do que nosso amigo Lourival dizia: a imprensa procura ser ética no que publica, mas não é ética no que fica retido na mesa do editor.
- Grande verdade, essa. Eu entendo que a mídia precisa preocupar-se com retorno financeiro, mas não pode ficar só restrito a isso. É preciso mais!
- Hoje estive no supermercado. Observei como os funcionários trabalham só pelo dinheiro. Não se trabalha mais pelo gosto de fazer o trabalho que proporciona aquela recompensa interna de ter feito algo como deve ser feito.
- E depois nós nos perguntamos por que há tantas pessoas sofrendo com doenças psíquicas? Fazer o trabalho com gosto é tão mais recompensador.
- Na semana passada comprei um produto sem código. A atendente do caixa chama a encarregada para providenciar o código. Hoje comprei o mesmo produto, ainda sem código. Ninguém corrigiu o problema. Viva e mediocridade!