O DOUTOR DAS 6 CANETAS
Tive um vizinho advogado com curioso hábito: estava sempre com 6 canetas no bolso da camisa. Podia ir encontrar um cliente, comprar pão ou arrancar alguma erva-daninha no jardim, não importava. Colocava sempre as tais canetas lá. Eram duas azuis, duas pretas e duas vermelhas. Nunca tive coragem de perguntar o motivo dessa fartura canetal, que imagino eram para alguma emergência, tipo assinar a salvação da humanidade e, naturalmente, não poderia correr o risco de a Bic falhar. Talvez se quisesse cutucar as duas orelhas, os dois buracos do nariz, a boca ou outro orifício ao mesmo tempo precisaria de equipamento adequado para uso simultâneo. Acho que não era nada por aí. Na qualidade de proeminente conhecedor das meandros jurídicos, com suas curvas, nuances e ciladas, tinha que exibir um intelecto que não deixasse a menor dúvida da profundidade de sapiência que a vida lhe brindou. As 6 canetas no bolso do Dr. eram o atestado incontesti da privilegiada erudição, algo que certamente faria Einstein revirar no túmulo se mordendo de inveja. Assim quem o encontrasse não teria a menor dúvida de que estaria diante de uma sumidade com QI estratosférico, devendo fazer a reverência protocolar como se estivesse, no mínimo, diante do rei da Inglaterra. Data Vênia!