Apesar de...

Há poucos dias atrás fui surpreendida com uma pergunta que achei muito válida e interessante: " O que você tem de mais estranho? " No sentido de, qual seria minha característica mais esquisita e talvez condenável. Achei genial o propósito da pergunta, mas considero ter tantas esquisitices, que estou a enumerá-las até hoje. Não é, definitivamente, uma pergunta a ser respondida facilmente. Pelo menos não para mim.

Certas esquisitices não transparecemos na foto, ou no nosso trajar e falar. Sou bem estranha. Ansiosa, um tanto desconfiada. Mas quando confio, confio muito. Quando criança, cheguei a comer formigas e trocar as próprias fraldas sozinha, com 3 anos. Falo sozinha, desde sempre. Saio e viajo sozinha, sem pudor ou incômodo. Canto alto quase sempre que dirijo, mas desde que esteja sozinha no carro. Meio carente, embora odeie admitir. Quando me sinto injustiçada, ou presencio alguma injustiça, rodo a baiana. Não sou um ser de luz flutuante. Nem possuo asas. Também perco a paciência e dou respostas atravessadas, caso eu ache que alguém mereça. Se eu cismar que estou incomodando, simplesmente desapareço. Ou mudo da água para o vinho. Orgulhosa, não? São apenas algumas. Sou bem contraditória.

Me identifico muito com uma frase de Clarice Lispector que diz: " Tenho medos bobos...e coragens absurdas."

Às vezes, falo demais. Mas também valorizo muito o silêncio. Preciso, na verdade, aprender a falar menos de mim.

Não espero criar expectativas de perfeição. Aliás, prefiro ser amada APESAR DE quem eu sou, não por quem sou.

Longe disso ser uma sentença transitada em julgado, busco a evolução. Procuro todos os dias aparar minhas arestas. Mas isso é um processo. Bem longo. E ainda bem que cabem recursos.

Quem ama somente qualidades, ama a utopia inebriante da paixão: uma infantil expectativa de perfeição. E também de recompensas imediatas.

O amor, ama "apesar de".

Um brinde, portanto, aos que me amam pelo que sou. Mas sobretudo, aos que me amam APESAR do que sou.

Poucos, mas verdadeiros. Esses, permanecerão.