Na praia do Cruzeiro

Não seu bem o porquê, mas mamãe num domingo desses disse-me assim:

- Filho vamos à praia do Cruzeiro.

Estupefato fiquei no movimento de me arrumar e na ânsia de o que iria levar . Como não tinha brinquedos, o jeito era imaginar.

Praia, pra mim um sonho de uma realidade maravilhosa. Amava água, embora tivesse restrições do lugar.Porque não havia árvores, porque não era um outeiro. Mas tinha que me conformar, visto que mamãe só haveria de ter dinheiro pra me levar até lá.

Compreendo esse lado fomos no icoaraci ouvindo , quando as crianças sairem de férias ou então Jesus Cristo, que o toca fitas ou a rádio local tocava. Todo feliz, ia na janela apreciando o vento gelado da mata, de um lado e do outro, que ainda restava pra nos animar.

Ao chegar desci com mamãe a me segurar. Não tinha baldinho azul, aquela pá amarela ou o peixinho de plástico para brincar. Mas já descalço sentia a areia nos pés a me por em contato com a natureza.

Mamãe colocava uma toalha no chão e lá demarcava nossa reserva. Nossas coisas entrincheiradas e tirando a roupa de cima perguntava:

- Mãe posso pular na água?

Como resposta, do seu zelo quase sempre ela dizia:

- Calma me filho eu vou contigo lá,pois você não sabe nadar.

E ali, mesmo na beira eu ficava a mergulhar . Gastando energia e a me renovar, sentido das ondas do mar a força para não ser mais o mesmo, quando saísse de lá.

Até que determinado momento chegou outra mãe com dois filhos e assentou-se ao lado da nossa ilha.

Sem imaginar algo diferente, pensei que com os dois garotos poderíamos brincar.

Cumprimos os protocolos de nos apresentar e sem muita burocracia, porque criança não tem oposição, começamos a corricar. Mas eles eram diferentes, tinham qualquer coisa de malícia e enquanto a mamãe se distraiu com a conversa daquela senhora. Eles começaram a colocar as mangas pro lado de fora. E me empurraram dentro da água, já não muito raso, porquê a maré já começava a dar enchente . E nessa agonia, de onda, enchente e muita gente na água, com o sol já dizendo meio dia, aqueles dois me derrubaram e sem saber, o que na cabeça deles passava. Me agarraram e me mergulharam dentro daquela água barrenta pra não deixar eu levantar. Quase sem fôlego não estava conseguindo respirar e batia nas pernas deles pra eles me soltar, o que não era obedecido. Nesse pouco caso,eles davam risadas como baladas vulgar.

Minha mãe entretida na conversa não percebia o que estava acontecendo.

Foi quando me investi de uma força sobre humana e consegui derrubar um deles.

Enfraquecida a força dos dois consegui escapar e disse:

- vocês não sabem brincar. Não viram, que poderiam me matar?

Eles cinicamente rindo, sem falar nada começaram a se empurrar e eu fui pro lado da mamãe sem querer mais na água entrar.

Almoçamos e mamãe perguntou:

- Por que você não entrou mais na água ?

E eu respondi:

- esses meninos são maldosos, não sabem brincar. Quase me afogaram.

Mamãe espantada, então sacramentou:

- então não vá. Fique aqui, onde possa te ver, para eles não te malinar .

Após ao meio-dia, bem depois do almoço eles se foram e eu voltei a brincar com as ondas do mar, até o sol serenar.

Quando mamãe me chamou pra gente ir embora, de volta para casa.

Cansado, pensando na volta adormeci no colo de minha mãezinha. Ao chegar descemos no fim da linha, onde as malocas da praça me chamavam a atenção, por pensar em ver por ali índios, sem saber que lá era apenas uma casa de venda de artigos da Amazônia.

E assim, naquele dia , com a lua discreta entre-as árvores foi o meu domingo de lazer com a minha mãe .