Coração sem rumo

Tem dias que estou em casa e meu coração está aflito. E já não tem mais espaço em casa pra tanta aflição. Quando já percorri quilômetros do quarto pra cozinha, da cozinha pra sala, do quintal pro quarto, e tudo de novo, o ar dentro de casa parece esgotado de tanto me acolher.

Então, me arrumo e saio pra rua, pegando o primeiro ônibus que aparece, sem me importar com o itinerário. A condução segue seu caminho, indiferente aos meus pensamentos desordenados. Dentro do ônibus, a paisagem pela janela se desfila como um filme mudo, sem som, mas cheio de significados que não consigo decifrar.

Quando já não me cabe mais a paisagem, quando o burburinho das pessoas ao redor começa a pesar, sinto o chamado de fora. Puxo a cordinha e desço, sem me importar onde estou.

Saio andando, guiado apenas pelo canto quase inaudível da natureza em meio ao caos urbano e do caos dentro de mim.

Vou em direção ao mar, ou à beira de alguma lagoa, ou me embrenho no mato.

É como se, na presença da natureza, meu ser reencontrasse seu ritmo natural. A água que corre no riacho, o canto dos pássaros, o murmúrio das ondas - tudo isso me distrai das inquietações que carregava.

A aflição vai se dissolvendo, transformando-se em uma calma serena, enquanto eu me perco na simplicidade do momento presente.

caminhando entre árvores, rochas e ondas, meu coração finalmente se aquieta, encontrando paz na natureza de tudo que passa dentro de mim.