A CULPA É DA MINNIE MOUSE!
A cena rodou dentro da área administrativa de um dos maiores parques de São Paulo, local onde faço caminhadas frequentemente, equipamento que atualmente está privatizado no gerenciamento do todo.
Ali circulam pessoas de toda a cidade , do Brasil inteiro e de vários lugares do mundo.
Na ocasião do ocorrido, bem cedinho, vinda dum bairro distante dali, estacionei meu carro fora do parque, numa ruazinha das imediações onde tenho um conhecido vigilante. Depois, segui para a caminhada.
Naquela manhã, andei muito sobre montes de folhas secas , contornei o parque por duas vezes por locais menos acessíveis, colecionei quinze mil passos no "Fit App" , ganhei os parabéns da IA, fotografei a Natureza...mas perdi um molho de chaves onde estava a do meu automóvel. Apenas a chave da residência estava fora do molho.
Fiquei agitada, mas me contive.
Procurar pelo perdido ali seria como buscar uma agulha no palheiro.
Certamente alguma boa alma o acharia o entregaria nos "achados e perdidos" , na administração do parque, como tantas vezes o fiz ali.
Voltei para casa de carona, peguei a chave reserva do automóvel e quando retornei ao parque o dia quase terminava.
Então resolvi procurar pelas chaves no setor administrativo, antes de ir embora. Quem sabe eu teria êxito?
Ali chegando, o inusitado ocorreu, um eufemismo que aqui uso para querer dizer: um absurdo ocorreu.
Responsáveis pela gerência do local estavam uma moça e um senhor a seu lado.
Na sala um casal que pedia informações.
O diálogo seguiu:
-Boa tarde, uffa, você nem imagina o que me aconteceu- disse eu à moça.
-Aqui acontece de tudo!-me respondeu ela, de sorriso entreaberto, meio em tom de...deboche.
-Perdi a chave do meu automóvel, por acaso alguém devolveu algo aqui?
A moça abaixou os olhos para trás do seu balcão, mexeu em alguma coisa que tilintou, ali onde meus olhos não acessavam.
-Como é a sua chave? me perguntou ela.
-Nossa, jura que tem chave aí? perguntei toda animada e aliviada.
-Tem!-ela me respondeu. Mas você tem que me dar a descrição exata dela.
Achei a tarefa mais fácil do mundo e comecei a descrição:
-Olha, a chave é do automóvel da marca tal, com logo da marca.
-O que mais?
-Tem outras chaves com essa marca?- perguntei.
-Não, mas você precisa me dar detalhes do tudo. Donde que são as outras chaves?
-Vixi, aí já é teste de memória. Montei o molho há muito tempo. Ah, me lembrei, tem mais três pequenas chaves colocadas num chaveiro de couro, uma em cada ganchinho de metal, as do local do trabalho.
-O que mais? (eu não acreditava naquele atendimento tão acolhedor).
-Posso olhar para reconhecer minha chave?- lhe solicitei.
-Não! é proibido porque alguém pode pegar a chave que não é dele.
Meu sangue italiano começou esquentar. Daí me lembrei que eu tinha a chave reserva de prova irrefutável. Um modelo.
-Moça, lembrei que posso provar, a chave é como essa daqui ô, é só você comparar o segredo.
Aí o senhor interveio na conversa, a favor da moça.
-Ela segue as normas, a senhora tem que descrever tudo o que tem no chaveiro, porque alguém pode pegar a chave abrir e roubar um carro aqui dentro.
Contei até cem antes de argumentar.
-Então os senhores acreditam, e na frente desse casal, que eu possa ser alguém querendo roubar o meu carro, certo?
Estou sendo injuriada! O senhores têm ideia da gravidade disso?
Ademais, como alguém saberia que tem um carro estacionado FORA DO PARQUE - numa rua de SAMPA e com sua chave num molho perdido e entregue aqui, dentro da administração?
Vamos resolver isso civilizadamente:, eu chamo a Polícia Militar e o policial decidirá como proceder, dirá se eu posso ou não reconhecer as minhas chaves , de pleno direito meu. E logo logo estaremos bombando nas redes. Eu, os senhores e as minha chaves.
Daí a coisa mudou na hora.
As chaves foram colocadas no balcão e eu respirei aliviada. Eram as minhas! Eram únicas! Uffa!
Que saga que durou quase doze horas!
O detalhe do sufoco: havia um chaveiro com uma figura conhecida nele dependurada, algo que eu ganhei há tempos e não me recordava que estava lá.
-A senhora tinha que me dizer que tem uma Minnie no chaveiro.
Suspirei, sem saber o que dizer...
Saí dali com a nítida sensação de que estamos perdidos.
Nenhum registro de retirada de "achados e perdidos" foi feito, nenhum documento sequer me foi pedido.
Nem os do carro.
Tive a sensação de que ali , subliminarmente, acontecia uma punição.
Existe uma falta alarmante de preparo profissional, de bom senso e de respeito em todas as atividades que demandam por
relações humanas.
A base disso é complexa é não é o mérito do texto da minha indignação.
Nunca temos para quem reclamar. Razão? Esqueçam, sempre há que se pagar o preço.
Depois as pessoas têm "ataques de fúria" e ninguém sequer sabe os detalhes do porquê...
Não pretendo voltar àquele local tão desrespeitoso.
É o único caminho para a autodefesa: evitar o sinistro.
E claro, vou dar uma revisadinha...na memória.