Academia serve para...
Academia serve para...
Sou nascido em mil novecentos e guaraná com rolha, que se chamava gasosa. Esse começo me deixa tão velho que não adianta contemporizar: não vão mudar minhas rugas, nem meus princípios.
A intenção é mostrar como tudo mudou desde a minha infância.
O filho tinha medo dos pais e dizia-se, na época, que era respeito. Temíamos o pai, com seu bigode autoritário, quando fazíamos algo errado e vinha surra sem pena. Conforme a gravidade do erro, traquinagem na rua, palavrão proferido, mentira, mudava o tipo de sova. Podia ser de chinelo. Que alegria! Digo isso porque com vara de marmelo ou cinta de couro ardia demais. Com a intenção de tirar as marcas da violência, a mãe fazia salmoura e passava em nossas costas e bunda, e aí mesmo é que doía. Isso se passava lá pelos idos de mil e novecentos e lá vai pedrada, quase sempre substituída por cintada.
Quem se lembra desses castigos se recorda também das coisas boas da vida. Um exemplo era Festinha Americana. Na sala da casa de quem organizava era colocada uma radiola e o pessoal dançava agarradinho ao som de músicas românticas.
Quando a música era mais agitada dançava-se o iê-iê-iê e o “twist”. Os homens levavam bebidas e as mulheres, salgadinhos.
Falando em salgadinho, me lembrei da comida de minha época.
Nunca morri de amores pelo pirão d’água, mas tinha que comer quase diariamente senão passava fome. Quando nossa família era ainda formada por meu pai, minha mãe, eu e minhas duas irmãs, não tínhamos pratos para todos. Os irmãos comiam numa gamela. Era colocado um quinhão para cada, e quando um roubava um pouco do outro, por menor que fosse a quantidade surrupiada, vinha briga e surra nos três. O terceiro sem saber o porquê chorava junto com o lombo dolorido.
Hoje, vendo uma banda de rock com a roupa colorida, lembro que já usei calças e camisas com cores berrantes, cuja diferença é que a calça não era apertada e a camisa era multicolorida. Após a puberdade é que vestíamos calça comprida, porque antes era calça curta, muitas vezes com suspensório.
Assim como a comida e a roupa vão sofrendo alterações com o passar do tempo, também a ortografia não fica para trás.
Se fosse um pouco mais velho teria escrito farmácia com ph. Não fugi, porém, de usar máquina de datilografia. Tinha até curso particular, seis meses de treino (se não me engano), e forneciam diploma, o que habilitava a trabalhar em algum escritório.
Máquina de datilografia lembra computador. Esse nos remete até os dias de hoje, a era da informática e todas as novidades que adentram os lares. É celular, “iPhone” e todo tipo de comunicação possível. Estão desaparecendo até os orelhões. Os restantes recebem um cartão para liberar a conversação. Em tempos idos esses monstrengos eram acionados mediante a inserção de uma ficha de metal. Daí é que vem a frase “ainda não caiu a minha ficha”.
Muitos viram o Michael Jackson morrer. Eu o vi fazer sucesso com os irmãos no Jackson Five, e ele era negro.
Tudo isso e mais outras coisas que esqueci foram colocadas aqui para mostrar as mudanças que aconteceram com o passar dos anos, e o respeito que tínhamos pelos mais velhos.
Uma menina de onze anos está na cozinha, com a mãe e o avô. Esse tinha feito uma cirurgia no joelho e comenta que fez fisioterapia e academia, mas como melhorou bastante, parou de fazê-las.
Sem nenhuma reação da mãe condenando-a, a menina sai com essa afirmação: academia o homem faz para não ficar brocha.
Aroldo Arão de Medeiros
18/05/2011