ALMA RANZINZA

Tem vezes em que a alma se zanga, fica turva, estranha de vez.

Nessas horas os ossos cambaleiam, viram indigestos, capengas, titubeiam, perdem o chão.

Daí a alma descabela, entristece, bagunça seus guizos, embriaga a fé, destoa o legado.

Se faz fica ranzinza, maltrapilha, triste mesmo.

Nem a ferrugem, o encardido e o vazio se dão conta disso,

é coisa que só relampeja dentro dela, não divide com ninguém.

São dias aflitos, trêmulos, esgarçados.

Mas, como tudo, não será para sempre.

Então ela se lembra daquele pedaço que guardava esquecido num porão.

Um pedaço sem gosto especial, de textura amena,

sem a pretensão de estrear, encantar e nem fazer bonito.

Daí chama o tal pedaço.

Ele fica reluzente, anima suas turbinas, tira o pó da pele,

limpa o musgo que afligia cada poro, cada canto.

E vem à tona aquecido. reluzido, decidido.

Lindo como nunca tinha se feito lindo antes.

Ter se lembrado dele o fez atiçar, o fez se maravilhar, o fez universar.

Assim a alma recompôs seu canto, sua graça e seu legítimo caminhar.

Oscar Silbiger
Enviado por Oscar Silbiger em 23/06/2024
Reeditado em 23/06/2024
Código do texto: T8092200
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