Lar de idosos X

Todo mundo precisa desabafar. Não dá pra segurar tudo dentro de si. Psicólogos ajudam? Sim! Mas é com hora marcada... e, às vezes, as coisas acontecem, a garganta fica engasgada e a pessoa só quer botar pra fora.

A filha tem alguns amigos que acompanham sua trajetória em sua vida com a mãe. Amigos que sabem quase tudo do relacionamento de ambas... amigos que sabem algumas coisas... amigos que sabem quase nada. A filha não é muito de falar. A filha sempre diz que é boa de escutar. Mas a filha também precisa falar.

A filha fala então. O WhatsApp é o canal de comunicação. A filha me diz que quando tudo acabar, vai deletar tal aplicativo de seu celular. Eu duvido... mas ela garante. Diz que criou traumas tremendos com o WhatsApp.

Por que cada um pensa que tem a solução em suas mãos? Por que cada um faz uma listinha de como a filha deve agir em cada situação que se apresenta no que diz respeito à sua mãe?

Partindo-se do princípio que cada pessoa reage conforme suas próprias experiências, é inteligente saber que a situação da filha é única. Talvez algumas coisas até se encaixem com as de outras pessoas... mas no geral o que a filha passa é única e exclusivamente experiência dela. E a filha reage conforme o que tem dentro de sua mente... o que viveu... o que leu... o que aprendeu... conforme seu conhecimento e viver de mundo.

Não há uma receita pronta: 'leve sua mãe para a casa dela de volta'; 'não sofra tanto, afinal sua mãe nunca foi uma mãe amorosa'; 'não isso... não aquilo'; 'faça isso... faça aquilo'. 'De boas intenções o inferno está cheio'..

Claro que a filha entende que cada um e todos querem ajudá-la. Mas será que ninguém percebe que o que estão fazendo é colocando-a, ou melhor, socando-a contra uma parede... e cobrando dela por reagir como reage?

Hoje a filha me disse: 'daqui pra frente vou dizer que está tudo ótimo com a mãe'... 'que está tudo ótimo comigo'... 'que está tudo na mais perfeita paz'...

Por que a filha vai fazer isso? Porque muitas das vezes a filha não estava pedindo opinião pra ninguém... apenas estava relatando os fatos como eles aconteciam... e a pedido das próprias pessoas. A filha nunca enviou uma mensagem pra nenhum amigo dizendo: 'aconteceu tal... ou tal coisa com a mãe'... só o fez quando tinha algum compromisso com a pessoa e precisava desmarcar. Agora nem compromissos ela pensa mais em marcar... se isolar nos seus problemas. Por que o que tem sentido é que as pessoas não sabem ouvir, apenas ouvir... elas têm de falar... falar e falar... e tentar convencer a filha de que a filha é a errada... sempre.

Que mundo triste se tornou o da filha.

E eu penso com os meus botões: se estou a escrever isso tudo... e se alguém ler e se apenas uma pessoa se der conta de que há situações em que o que se tem de fazer é só ouvir... já está ótimo.

Ouça mais. Fale menos. Julgue menos. Acolha mais. O outro na sua dor está despedaçado. Não tripudie ainda mais em cima dessa dor. O outro não está sabendo lidar com a situação. Um dia ele vai olhar de retrospectiva e talvez vá pensar: 'pôxa... se eu tivesse feito assim ou assado teria sido melhor...' Hoje ele está apenas imerso na dor, na confusão - claro que não vai conseguir pensar com lucidez, nem agir da melhor forma. Vai agir com o que tem nas mãos. E no coração.

E pode ser que o que ele tenha nas mãos seja o contrário do que tudo o que é certo. Mas ele NÃO consegue ver.... infelizmente. Mas é o que a pessoa tem no momento. Depois... bem, depois é só arcar com as consequências.

Rosangela Calza
Enviado por Rosangela Calza em 23/06/2024
Reeditado em 23/06/2024
Código do texto: T8092183
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