HISTÓRIAS DE PROFESSOR: O EQUÍVOCO!

Nas primeiras reuniões do período escolar, são passadas as informações gerais das turmas e especificidades de alguns alunos.

A professora de Arte anotou que, na turma do primeiro ano do ensino médio, teria um aluno surdo, e enquanto o intérprete de Libras não chegasse, era para tomar cuidado para não falar de costas para a turma, pois o referido aluno fazia leitura labial.

Como ela era muito distraída e só teria uma aula por semana na classe, anotou o recado na folha de horário, para não esquecer e lamentou não ter habilidade em Libras para, ela mesma poder se comunicar com o referido estudante.

Na primeira semana de aula, com o lembrete, entrou em sala bem alerta. Fez a chamada devagar, falando os nomes com calma e olhando os alunos que respondiam "presente" para identificar quem era. Apenas um aluno, que sentava na primeira cadeira na fileira do meio, respondeu acenando o braço de forma solene, fazendo com que ela deduzisse que ele fosse o aluno surdo.

A partir daquele dia, ela ficava de frente para o aluno e explicava a matéria pausadamente, falando “d e v a g a r” cada sílaba das palavras e abrindo bem os lábios para ficar mais fácil o aluno identificar os sons das vogais e consoantes. O aluno ficava hipnotizado com a pronúncia minuciosa da professora em cada verbete, e a olhava com a boca aberta, olhos arregalados, quase sem piscar.

E assim, passaram-se duas semanas.

Na terceira semana, ao entrar na sala, observou um adulto e um jovem sentados na fileira do canto, o adulto com a cadeira virada para o jovem. A professora deu bom dia e viu o adulto traduzindo em Libras para o jovem aluno.

Rapidamente a professora olhou para o aluno que ela julgava ser surdo e ele estava distraído, conversando com o colega que sentava atrás dele.

Nesse tempo todo, a professora achava que o aluno surdo era uma pessoa que escutava! Envergonhada, ela ficou imaginando todos os gestos exagerados e todas as palavras faladas com a pronúncia milimetricamente calculada para a pessoa errada!

Engolindo o orgulho ferido, a professora começou a ministrar a aula, falando normalmente, e atraindo a atenção dos vinte e nove alunos que olhavam-na com um misto de espanto e confusão, pois pensaram que o normal da professora era ser exagerada na maneira de se expressar!

(23/06/2024)

Roberta Isaias
Enviado por Roberta Isaias em 23/06/2024
Reeditado em 24/06/2024
Código do texto: T8092163
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