UMA PORTA E NADA MAIS.

Uma porta que se abria, apenas uma porta e nada mais...

Eu estava muitíssimo assustado, era a porta do meu quarto que estava sendo aberta atrás de mim. O ranger das dobradiças, lento, profundo, sim, eu não tinha dúvidas, era o som da porta se abrindo. De repente, cessou o barulho, veio o silêncio...

A princípio o medo não permitiu que eu me virasse para ver o que era, em meus atormentados pensamentos passeavam mil imaginações, das menos absurdas às mais mirabolantes possíveis. Eu tentava entender o quê, ou quem poderia estar por detrás da porta, prestes a entrar em meus domínios aquela hora da madrugada de um turbulento fim de semana. Com extremo medo virei-me lentamente para a esquerda, olhando de canto de olho, em meu trêmulo olhar, pareceu-me ser aquilo dedos com luvas segurando a porta entreaberta. Quase desmaiei de medo naquele momento.

Uma porta, apenas uma porta aberta, nada mais... Pensei por um momento.

Teimava a razão enquanto o coração duvidava. Eu não quis olhar, me recusava a olhar, os fios de lágrimas nasceram de meus inocentes olhos de criança assustada. Não havia solução, eu decidi que esperaria pelo pior, temendo o que fosse acontecer. O meu pensamento era inundado por imaginações horrendas, dignas dos filmes de terror assistidos semanas anteriores. Imaginei as piores possibilidades, ladrão, demônios, assassinos monstruosidades do folclore brasileiro, enfim. Permaneci imóvel, tal como estátua, me senti sufocado, dominado pelo medo. Uma brisa suave soprou em minhas costas, arrepiei-me inteiro uma vez mais, ouvi o ranger da porta novamente, "é ele", pensei, "Este lobisomem está prestes a me atacar, tenho que ser rápido", disse a mim mesmo em pensamento, mas não havia em mim coragem. Esperei pelo pior de olhos fechados ... Passados alguns minutos, nada aconteceu. "Por certo o ele desistiu", imaginei. Relutante, virei-me por completo, para minha surpresa, não havia ninguém na porta, nada, nenhum ladrão ou fantasma, nem demônios ou lobisomem. A porta agora completamente aberta me possibilitava ver o corredor, ao final, uma janela que estava aberta.

A porta fechou-se repentinamente, com grande força e velocidade causando um grande estrondo, o que me fez pular da cama. Foi somente então que este medroso poeta, na época uma criança, percebeu que seu misterioso intruso, na verdade, era apenas uma janela aberta com uma corrente de ar, que fez abrir a porta do meu quarto lentamente, e depois, vindo a fechá-la com grande violência. Quanto aos dedos que abriram a porta, era tudo fruto da fértil imaginação de uma inocente criança.

Uma porta que se abre, apenas uma porta e uma janela, nada mais...

Passado o susto, eu ria de mim mesmo, de toda aquela situação, percebi que todo o meu medo era desnecessário e fantasioso. Naquela noite jurei para mim mesmo que não assistiria tantos filmes de terror durante a noite e sozinho, o que de fato aconteceu por um bom tempo.

Caríssimos amigos leitores, jeito diferente de começar uma crônica não é mesmo, pois bem. Durante essa semana, enquanto me preparava para dormir, uma janela aberta fez a porta do quarto fechar violentamente, tal fato trouxe à memória lembranças daquele dia, quando ainda criança, na casa da minha tia. É claro que naquela época eu não disse nada a ninguém do meu desespero durante a fatídica noite. Como eu precisava de um tema para a crônica deste domingo, a lembrança veio em boa hora. Quem nunca passou por situações semelhantes quando criança.

Uma porta que se abre, apenas uma porta e uma janela, nada mais... Ainda estou rindo de mim mesmo.

Tiago Macedo Pena
Enviado por Tiago Macedo Pena em 23/06/2024
Reeditado em 23/06/2024
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