MINHA NETA ESCRITORA

Minha neta tem quatro anos e já escreveu dois livros, pelo menos em seu universo ainda limitado de quase nenhuma experiência de vida é o que ela afirma, e sente muito orgulho dos rabiscos e traços de desenho que compõem o conjunto das obras produzidas. Apesar de para nós ser apenas fantasia imaginada por uma criança inocente, embora cada "livro" conte uma historieta criada por ela bastante minúscula e ainda assim coerente, a semente de um sonha se vislumbra em seu coração.

Ela faz questão de folhear as oito páginas das obras, mostrar os desenhos feitos com o capricho, a simplicidade e a capacidade inerentes à idade dela e narrar alegremente o conteúdo da história pensada, desenvolvida e escrita. Nesse momento mágico percebo um brilho diferente e intenso nos olhos de minha netinha, como se de realização, de dever cumprido.

Eu e os pais dela elogiamos, aplaudimos e incentivamos o trabalho executado, deixando-a toda faceira e feliz da vida pelo reconhecimento familiar, agrado momentaneamente suficiente como estímulo e aceitação de suas escolhas e ideais. Que a seus olhos brilha à guisa de algo espetacular, como se o mundo inteiro batesse palmas ao seu talento.

Como avô coruja que sou meu coração infla de êxtase por ela gostar da bela arte de escrever. Sei, é pouco ainda e muito cedo para conceber a ideia fixa de que ela será uma escritora no futuro, todavia só o fato de ela sentir alegria e satisfação nos primeiros passos literários, incipientes sim, mas abertos a amplas possibilidades por ora meramente fortuitas e remotas, já é motivo bastante de regozijo.

Escrever nunca é tarefa prazerosa se quem o faz não se sente à vontade, não gosta nem tem tendência, e quando isso acontece em virtude de a criança se interessar pela atividade de forma espontânea, certamente é motivo maior para nós deixar entusiasmado e feliz.