Lar de idosos IX
Lembranças que a filha tem do momento em que a mãe saiu do quarto do hospital até o momento em que saiu da clínica de idosos em que deixou a mãe...
Um enfermeiro empurrando a cadeira de rodas. Um elevador. A mãe com o pijama da filha... o roupão verde água da filha, calçando alpargatas cor laranja, da filha,
Do caminho do hospital - uns 15 quilômetros - nenhuma lembrança. Nada. Tudo foi apagado da mente da filha.
Da chegada na clínica, lembra muito bem de um cuidador vindo com cadeira de rodas, a mãe sentada na cadeira.
A sala do administrador/gerente. Escura e úmida. Perguntas e mais perguntas... às quais a filha respondia maquinalmente. Que remédios? A filha: o da tiroide, o da pressão, o da depressão, a dipirona (outro mais forte se a mãe sentir dor) e o anticoagulante. Só isso? Pergunta o gerente. Sim! "Nossa!!! Temos pessoas aqui que enchem quase duas folhas de medicamentos", A mãe é muito saudável... a filha pensou... mas não disse nada.
Tinha um contrato. Foi assinado. Se a filha leu, não lembra de nenhuma palavra. Simplesmente assinou.
A mãe tem convênio... um bom convênio... atendimento 24 horas... se precisar é só chamar - a filha AVISOU!. Cópia do documento do convênio.
A filha vai para uma salinha de recepção. Já havia recebido a lista de tudo o que a clínica solicitava. A filha havia providenciado algumas coisas. A moça da clínica tinha uma caneta especial e colocou o nome da mãe nas roupas e em tudo o que era da mãe. Hoje a filha sabe que há um carimbo que é usado para marcar as roupas de crianças em escolas...
A recepcionista anota em um caderno tudo o que era da mãe.
Última lembrança daquele dia...
Um branco total de uns quatro ou cinco dias depois do internamento da mãe. A filha se esforça pra saber como saiu da clínica, como chegou em casa, o que fez - só lembra que dormiu, dormiu muito -, quando foi sua primeira visita à mãe na clínica... nada vem à memória. Tudo está apagado.
Defesa da mente? Sei lá...