A SETE CHAVES
Quantos segredos e mistérios trancados a sete chaves guardamos dentro de nós? Alguns deles são frugais e amistosos, outros têm alta voltagem e garras aflitas. São tecos da gente um tanto imaculados, só aguardando alforria, quem sabe uma bênção ou perdão. Podem ficar inativos por toda história ou emergirem num tsunami tresloucado. Podem já estar domesticados ou camuflados numa carcaça na espera do estopim para virarem tudo de cabeça para baixo. Esses pedaços da gente se disfarçam de derrapadas inveteradas na tentativa de revelar o que trazem atrás das suas fantasias ou embebidos na alma, esforço inócuo. Muitos julgam já os tê-los traduzido, mas é ledo engano, pois são mutantes, trocando de cheiro, forma e cor quando der na telha. Assim vão cumprindo o papel que lhes cabe, desacatando regras e métricas até sempre. Podemos vê-los como o nosso fio da meada existencial, código que outorga o direito de nos tacharmos de criaturas humanas, ao invés de meros grãos de areia perdidos nas praias mundo afora. Por tudo isso, não vale a pena perder tempo tentando decifrar suas rinhas e becos, pois ignorar certas vísceras é o que dá tom às caminhadas de cada um, evitando escorrer pelos ralos desatinados de mera existência banal, oca e opaca.