O dia da sabatina

- Beto vá estudar menino, pois sexta-feira, tu vais ter tabuada na aula de reforço.

Disse-lhe assim a dona Graça ao seu filho, que só brincava, naquela terça-feira...

Brincando, brincando ele teve um momento de lucidez, pensou nas outras sextas-feiras, que apanhava de palmatória dos outros colegas nas aulas de reforço da professora Raimunda e já ouvindo o conselho calmo de sua avó pegou a tabuada, de 8 e 9 e como recomendado e começou a estudar dizendo pra si, que não irá mais apanhar.

Dessa forma, começou a estudar, se dedicando e brincando.

Quando chegou na quinta sentiu que não estava dominando bem a tabuada de 9, algumas lhe fugiam a lembrança.

Foi pra escola na sexta-feira e pela tarde antes das 14 horas os nervos estavam a flor da pele.

Então teve a ideia de por segurança colocar nas mãos as questões, que não lembrava muito bem. Mesmo correndo o risco de ser descoberto e sofrer as sanções da época.

Antes de ir ao trabalho, dona Graça, o arrumou para leva-lo a casa da professora Ray, como era conhecida e perguntou ao seu filho:

- Menino tu estudastes?

Que ele respondeu com firmeza:

- Sim mãe.

Antes de sair no sol da tarde , daquela Belém no Telégrafo, tomou bênção de sua avó pedindo:

- Vô reze por mim. Pra que eu me saia bem.

Ela o abençoou dizendo que sim, sob as ponderações da mãe, dizendo:

- Não adiantará nada a mamãe rezar se tu não estudou.

E seguiram sob a cortina de sol pesada.

Em frente a casa da professora Ray, com o calor intenso o suor era nítido.

Dona Graça bateu na porta da casa, na parte mista, simples.  E foi recebida pela professora, onde também já se podia ver a maiora dos alunos.

Mariano o seu coleguinha, que também sofria com as palmatoadas dos outros colegas veio ao seu encontro perguntando:

- Tu estudou?...

Beto com um ar confiante respondeu:

- Sim...hoje eu não vou apanhar. Vou a forra com esses metidos a ricos.

Ricos ou de classe melhorada era um grupo de meninos e meninas, que os discriminavam por serem mais pobres  e que contavam com o apoio e a simpatia daquela professora.

Que começou a tarde observando o livro e o caderno,  para saber o conteúdo das matérias na escola e quem tinha dever procurava desenvolver.

Passou umas duas horas, lá pelas quatro da tarde ela falou:

- Se todos terminaram vamos agora pra nossa sabatina de 8 e 9, como falei .

- Lembrando, que um corrigirá o outro com a palmatória.

A ansiedade estava no ar... o coração não cabia no peito daquele menino ou daqueles garotos.

Um misto de tensão com nervosismo, altivez e tantas outras emoções cercavam aquela sala rósea bem clara,  estilo colonial, com mesa de vidro, cercada de cadeiras estilos e um vaso central.

Não havia ar condicionado,  apenas duas janelas abertas do lado e a luz florescente, como um luar naquela sexta magistral.

Eram mais ou menos  onze alunos ... ' Mariano, Beto, os quatros filhos de dona Terezinha, dois meninos e duas meninas, a morena, a Rosinha , a Filomena, a  Joana e Kátia.

Quando começou a rodada, liderada pela professora Ray  todos inclusive Beto, Rosinha, Joana e Mariano acertaram. Eles juntos, que  sempre apanhavam.

Na rodadas seguintes Beto começou a sobressair e a bater geral. Usando da mesma força, que seus algozes outrora faziam, apenas aliviando seu coleguinha, a Joana, Rosinha, Filomena e Kátia

Dado momento, da situação,  em que Beto dominava as ações, a morena começou a lagrimar e os filhos da dona Terezinha a se incomodar, a professora pra aliviar interrompeu  mudado de 8 para 9 as perguntas da tabuada, que não mudou em  nada o roteiro.

Beto  continuava em ascensão passando a palmatória nas mãos de quem não lembrava ou não sabia. 

Até que a professora perguntou:

- Nove vezes oito, quanto é?

Filomena não sabia, os filho da dona Terezinha não sabiam, Joana, Kátia...

Beto não lembrava,  era o ante penúltimo, depois vinha o Mariano. Mas ele,  usou de molecagem, enquanto a morena tentava responder. Beto empurrou sorrateiramente Mariano pra sua frente olhou rápido seu Lembrete nas mãos suadas e antes de responder, esfregou bastante as mãos até desaparecer a tinta da caneta com a cola.

Quando a professora chegou a ele fazendo a pergunta ele sem titubear respondeu:

- 72

Ela passou a palmatória a ele, que começou a empreender as palmatoadas nas mãos dos meninos e meninas, até  chegar na morena, acostumada a caçoar e a bater nele sem dó.

O que ele levantou a palmatória pra bater, ela se insurgiu lagrimando e acusando:

- Ray  ele só pode ter cola nas mãos.

Em socorro ao pedido, a professora interrompeu dizendo:

- Beto pare e  mostre as suas mãos.

Ciente do que já havia feito, ele malandro e sem culpa mostrou as mãos, que nem indício haviam.

A professora sem o que dizer pra ser justa mandou ele aplicar duas vezes a palmatória nela.

Ele sem dó e nem piedade aplicou a primeira, quando ia aplicar a segunda, ela em prantos correu e pulou uma das janelas.

Como sua casa era ao lado ela foi- se e não voltou pra sentir a palmatória da segunda vez.

A professora Ray encerrou a aula, cada um se dispersou pra suas casas.

Mariano no caminho falou a Beto:

- Eras valeu me sentir vingado.

Beto respondeu:

- Quando apanhavamos deles, eles riam da gente e a professora os apoiava. Hoje foi a nossa vez.

Aí Mariano, que já se despedia agradecido perguntou:

- Mas tu tava com cola?

Beto rindo respondeu:

- Não, só um lembrete.