A Ciranda da Injustiça Cultural Brasileira
No vasto e caleidoscópico panorama cultural brasileiro, onde a diversidade deveria ser celebrada como um tesouro nacional, o que vemos na prática é uma ciranda incessante de injustiças, onde poucos dançam no centro, enquanto muitos rodopiam à margem, esperando sua vez de serem notados.
Imagine-se no centro de uma feira literária, cercado por estandes reluzentes que exibem o brilho dos grandes nomes da literatura nacional. Ali, os autores consagrados são tratados como realeza, com suas obras promovidas e discutidas em mesas nobres, enquanto os aspirantes a escritores se espremem pelos corredores, ansiosos por um lampejo de atenção.
Essa é a injustiça cultural brasileira em ação, um jogo onde as regras são escritas por editores que mais se parecem com agiotas de ideias. Eles não promovem literatura, promovem a si mesmos como os donos do passe para o sucesso. Às vezes, fico imaginando se esses editores dormem em pilhas de manuscritos rejeitados, acordando de madrugada para rir malignamente, como vilões de novela mexicana.
O artista brasileiro, coitado, tem que ser multifuncional. Além de criar, precisa se tornar um expert em marketing digital, um mágico das redes sociais que faz sua obra aparecer para um mundo entorpecido de informações. Recebem e-mails tentadores, prometendo o céu na terra musical ou literária, mas no fim, é só mais uma pirâmide invertida, onde o único que vê a cor do dinheiro é o mestre da cerimônia.
E as bienais? Ah, esses parques de diversões culturais para a elite intelectual! Não se engane, meu caro leitor, porque ali não se vende só cultura; vende-se exclusividade. A entrada? Não é para qualquer um. É para aqueles que já têm seus nomes nas colunas sociais, ou para quem tem dinheiro para comprar um ingresso que vale mais que muitas obras ali expostas.
Enquanto isso, os verdadeiros talentos criativos se debatem nas margens, tentando musicar poemas e transformar ideias em arte, enquanto o sistema insiste em transformá-los em peças de um jogo cujas regras mudam conforme os interesses dos "tutores da cultura".
É um Brasil paradoxal, onde a riqueza cultural é ofuscada pela pobreza de oportunidades. Onde os verdadeiros guardiões da arte não são aqueles que a criam, mas os que sabem como comercializá-la melhor. É uma ciranda da qual é difícil escapar, onde até os mais resilientes acabam presos na roda viva da exploração.
Então, enquanto a injustiça cultural continuar a girar essa ciranda, resta aos artistas resistirem como puderem, usando as plataformas digitais como trincheiras e as redes sociais como megafones. Porque a verdadeira revolução cultural virá não de bienais opulentas, mas dos corações e mentes daqueles que persistem em criar, apesar de tudo.
No final das contas, talvez seja essa a nossa maior arma contra a injustiça cultural brasileira: a obstinação em continuar produzindo, mesmo quando o sistema parece estar torcendo contra nós.