FUTURANDO

Tenho medo do futuro, dos seus olhos e poros,

das suas mãos e corações.

Tenho medo das novas raízes, dos novos ventos,

dos novos gostos, das novas canções.

Quem ficará com as garras, chaves, rebarbas?

Quem assinará seus cheiros, melodias e gostos?

Talvez fique um turbilhão atroz, com desmandos a

granel e reis loucos escorrendo por todo canto.

Talvez seja respingado de sangue seco, de injustiças

graneladas, de ciladas feito poros sem fim.

O futuro já ensaia o seu chão e mostra quão ardidos

serão o seu eco e sombra.

De onde for, veremos essa grotesca algazarra se

esgarçando em busca de ar, de luz, de vida, do que for.

Saber que fomos nós os artesãos dessa sombria paisagem,

saber que coube a nós esganar suas flores, seus deliciosos quitutes,

suas maravilhosas cantigas de roda.

Saber que tínhamos os acordes para tecer rimadas brisas

e fizemos tudo ruir, feder e chorar. Quanto chorar.

E assim deixamos para os que virão essa sórdida sobremesa,

que ficará entalada nos confins das suas almas até sempre.

 

 

 

 

 

Oscar Silbiger
Enviado por Oscar Silbiger em 21/06/2024
Reeditado em 21/06/2024
Código do texto: T8090333
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2024. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.