EU VI O DIABO NA CONFISSÃO

 

Pensei muito antes de fazer esta postagem, porque de certo causará furor nas pessoas religiosas, no entanto, já passei da fase de me importar com ataques, ofensas ou críticas. Escrevo aqui de alma leve sem qualquer ressentimento, mas para que as pessoas alarguem suas mentes e parem de pensar que a culpa é sempre da pessoa que se afasta da religião.

 

Fui criada na fé católica desde o ventre materno. Por orientação acabei seguindo nessa senda. Embora sentisse certa resistência em aceitar os ensinamentos, além de grande incômodo com riquezas nas construções da Igreja católica, fiquei por anos nessa organização religiosa.

 

Conforme fui crescendo, meu desconforto aumentava em discordar com os luxos, visto que não condiziam com o que os bispos, padres e demais religiosos ensinavam: a partilhar com os menos favorecidos, a sermos humildes, enfim, a minha mente pensante se abria e mais eu me questionava se estaria no caminho certo. Então, vinham religiosos e leigos com aquela conversa ensaiada: “Olhe para Jesus, a Igreja é santa e pecadora” e “Quem sai da Igreja por causa das pessoas nunca esteve nela por causa de Jesus!”. E, ainda que inconformada, lá ia eu como boa e obediente vaquinha de presépio seguindo a manada da fé.

 

Então me preparei para ser catequista, estudei as Sagradas Escrituras, fiz o excelente curso bíblico, na Mater Ecclesiae com Dom Estêvão Bettencourt, porque eu queria ensinar tendo conhecimento da Palavra, e não transferir para as crianças o que me foi ensinado de forma superficial.

 

Com tudo o que adquiri no estudo bíblico, iniciei a catequese. A minha didática era a de trazer para os dias atuais a convivência do Cristo para a realidade dos catequizandos, de forma que os fazia pensar com as próprias e ideias, e o mais importante era o de propagar o amor, partilhar o que tinham com quem tinha menos ou nada. Enfim, o social, que a Igreja deveria praticar, e não apenas exigir que os fiéis obedecessem. Eu cuidava da minha postura e das minhas ações para ser bom exemplo, e de não ter palavras ocas, sem consistência. O que eu via e não gostava entre os religiosos, eu não repetia.

 

Anos se passaram, e vi de tudo o que eu não gostaria de ter visto dentro da Igreja. Afirmo com todas as letras: eu me arrependo de ter sido catequista. Explico, porque enquanto eu era apenas uma fiel que frequentava as missas nos domingos e em dias de festa, eu não via os bastidores da Igreja, e esse foi o meu erro. Quando comecei a ter contato mais direto com padres, diáconos e coordenadores das pastorais, é que tive a dimensão de que ali não era simplesmente um templo de oração. O altar virava palco, religiosos e leigos se consideravam artistas. Vi muita ganância, orgulho, vaidade, arrogância, escárnios, preconceitos, além das lamentáveis “panelinhas” de intrigas e fofocas, que não davam oportunidade para novas membros. Tanta gente com dom que era ignorada, por não fazer parte do “grupinho seleto”. Terrível isso.

 

Aqui é o momento em que muitos dirão: “Ah, mas onde tem ser humano, isso acontece mesmo, precisa perdoar!”. Faça-me o favor! A Igreja não é lugar de cura? Eu costumava dizer que Igreja é hospital de almas, então, se as pessoas ficam lá da infância ao embranquecimento dos cabelos, a Palavra de Deus não serviu para nada? Não serviu para mudar o coração e a mente? Não moldou o caráter das pessoas? Não melhorou o fiel enquanto ser humano? Não absorveu o ensinamento de Jesus? A fé não foi útil para retirar vícios, intrigas, luxúrias, ganâncias? Desculpa, mas se frequentar uma religião não servir para melhorar a pessoa, para mim é inútil. Tenho visto gente muito mais santa e parecida com Cristo fora de igrejas.  

 

AGORA VAMOS AO DIABO NA CONFISSÃO!

 

Houve mudança de padres na paróquia que eu frequentava até 2021, e como tinha presenciado durante anos, em todas as paróquias que já frequentei pelo Brasil, fatos que estavam enfraquecendo a minha fé na religião*, fui me confessar com o novo padre. Eu precisava conhecer a postura do pároco substituto para continuar atuando como catequista. Obs.: a minha fé em *Deus é inabalável.

 

Quando comecei a falar, em confissão, sobre o que discordava na igreja: padres pedófilos com processos, padres que utilizavam dinheiro doados pelos fiéis para bancarem seus luxos, e confessei inclusive sobre uma injúria racial que presenciei. Nem bem terminei a confissão, o padre me interrompeu, me destratou, ficou com os olhos esbugalhados e vermelhos de tanta fúria, e me disse quase aos berros “você não pode falar mal dos padres, eu não admito que fale mal desses padres”, e, “por mim vocês, (se referindo ao meu marido), podem embora dessa igreja!”.

 

Ali não estava um sacerdote, mas a verdadeira imagem do satanás. Eu não estava falando mal de padres, ou falar a verdade dos fatos mudou a nomenclatura? Fui confessar o que estava me sufocando. Não é para isso que serve o Sacramento da Confissão, como ensina a Santa Madre Igreja?

 

Nessa hora tive a confirmação de que havia perdido anos dentro de uma religião que acoberta o erro, que pune quem tenta melhorar, consertar. E o padre quis colocar mordaça em mim! Logo eu com verve de jornalista, que não me calo ante à injustiça, ao errado, ao desumano! Porque é isso o que os religiosos estabelecem para se manterem com falsa moral ilibada: a lei do silêncio opressor.

 

Eu agradeço a esse pseudorreligioso, que ao invés de acolher a catequista, ele praticamente expulsou, porque reconheceu que não sou maria-vai-com-as-outras, que eu não me submeto aos desmandos de padrecos.  Eu não me vendo nem me envaideço por títulos de coordenadora de pastorais, não aceito comungar com que não é ético, não sou manipulável. Não uso a igreja para conseguir vender meu peixe, para fazer excursões ou me projetar como cantora ou outra profissão.  Não tinha outro interesse que não fosse para exercitar a minha fé cristã. Os bispos, padres e demais religiosos conhecem os fiéis que são negociáveis. Agradeço ao sacerdote porque me ajudou a fazer a escolha certa, largar a religião. Apesar de ter ficado muito triste com a atitude de quem eu esperava outra postura, eu saí muito leve da confissão. Já o padre não sei se teve a mesma pluma na consciência, se é que tem consciência, porque respeito com uma mulher, ele não demonstrou nenhuma.

 

Posso afirmar com leveza de alma, depois que saí da Igreja Católica, eu me aproximei muito mais da verdadeira fé. Meu encontro com Deus tem sido diário, forte e íntimo, e tanta graça tem me acontecido por meio de orações, e não por meio de religião.

Quem me conhece com maior intimidade sabe que não guardo mágoas da igreja, só não quero e não irei mais participar enquanto não houver, de fato, uma transformação dos líderes católicos em suas mentalidades vis. Declaro que ainda existem, raros, padres respeitáveis que merecem consideração.

 

Podem comentar ou criticar à vontade! Diferente do padre que quis me calar, eu zelo pela liberdade de expressão e de opinião. Eu só lamento dos leigos, que mesmo sabendo dos atos reprováveis dos religiosos, ainda ficam a favor deles e contra quem diz a verdade. Pobres fiéis, não sabem que omissão também é pecado? Eu não sou covarde, graças a Deus!

 

Pensando bem, católicos não têm coragem de manifestar suas opiniões comentando aqui, eu sou uma entre milhões que falo e escrevo o que penso, o que vi, ouvi e testemunhei.

 

Tenho muito mais a relatar, mas  teria que escrever uma bíblia!rs

Abraços ternos,

Djanira Luz