O mundo precisa de paz

 

     Desde que me entendo por gente ouço falar em guerras.

    A primeira guerra de que tive conhecimento foi a Guerra do Vietnã. Lembro-me bem de meu pai ouvindo o noticiário no rádio todos os dias à hora do almoço, quando eu chegava da escola. Eu tinha dez anos de idade nesta época e me sentia assustada com os comentários sobre os horrores que aconteciam lá do outro lado do mundo, tinha medo de que chegassem até aqui. Aos dez anos não se tem muita noção das dimensões e distâncias geográficas. Era como se a guerra estivesse acontecendo em uma cidade próxima. Eu chegava a ter pesadelos por causa desse assunto que cotidianamente eu ouvia em casa. Meu irmão era reservista do Exército, havia servido dois anos antes e eu morria de medo de que ele fosse convocado. Eu acreditava que o Brasil estivesse envolvido no conflito. Meu pai faleceu em 1969 sem ter visto o final desta tragédia que dizimou milhões de vidas. Somente em 1975 a Guerra terminou, mas as marcas deixadas por ela, não.

    Desde a antiguidade a humanidade vive em guerra. São conflitos gerados pelos mais variados motivos: disputas territoriais, econômicas, por hegemonia. No século XX, o século em que cheguei ao mundo, as guerras de que tive conhecimento por meio das aulas de História durante o Ensino Fundamental e Ensino Médio, foram tantas que fica difícil relacionar, mas as principais foram: Guerra entre as Coreias do Norte e do Sul, Primeira e Segunda Guerras Mundiais, A Crise dos Mísseis de Cuba, a Guerra Fria entre os EUA e a URSS que, embora não tenha existido confronto direto entre as tropas dos dois países, foi um longo período de tensão pela ameaça de uma Guerra Nuclear. As duas maiores potências mundiais tinham poder de fogo para exterminar a humanidade se partissem para a luta armada.

    Nas décadas seguintes, muitas outras guerras aconteceram em diversas partes do mundo: Guerra das Malvinas, do Irã-Iraque, do Afeganistão, do Líbano, da Síria (já dura 14 anos) e, atualmente, a da Rússia contra a Ucrânia, além de Israel contra o Hamas. Isso sem contar com as Guerras Civis espalhadas por várias nações africanas, no Haiti, os massacres frequentes de cristãos em países da Ásia e África. E assim segue a humanidade, guerreando.

Entretanto, não existem guerras somente entre nações. Há outros tipos de guerras bem próximos de nós: são as guerras urbanas. As páginas dos jornais, impressos ou digitais, os noticiários da TV, a programação das emissoras de rádios informam, 24 horas por dia, sobre confrontos entre polícia e tráfico de drogas, polícia e milícia, milícia e tráfico de drogas. Matérias jornalísticas como assaltos, homicídios, latrocínios, sequestros, estupros, feminicídios, tráfico de armas, tráfico de pessoas, violência doméstica, abusos contra crianças e adolescentes, acidentes por embriaguês ao volante e outros, ocupam grande parte dos noticiários em todos os veículos de imprensa. Mas não para por aí, ainda tem crimes de estelionato, golpes pela internet, a disseminação de fake news e a inseguraça da população aumenta a cada dia.

    A gente se enche de angústia, de indignação, de revolta, por assistir às atrocidades que são cometidas pelos países em guerra ou pelos criminosos de nossas cidades. Mas, o pior dos sentimentos é o de impotência, porque nada podemos fazer. Os que têm fé em Deus fazem suas orações e pedem misericórdia pelas vítimas de toda essa insanidade humana.

O mundo precisa de paz. Mas, às vezes eu penso que isso é utopia.

    Desde que o ser humano descobriu que poderia dominar outros seres humanos pelo acúmulo de territórios, pelo poder econômico, pelo poder bélico, os conflitos e as guerras surgiram no mundo e não há nenhum indício de que um dia elas possam acabar. Quando os líderes mundiais se reúnem para negociações que levem ao final de um conflito, outro, ou outros, surge em outra região.

    No final, todas as guerras têm uma única motivação: o poder. Seja o poder de uma nação sobre outra, de um grupo sobre outro, de um indivíduo sobre o outro (os casos de feminicídio são um exemplo: quando o homem percebe que não tem mais o poder sobre a mulher, quando ele não aceita o final do relacionamento, prefere matá-la).

    É o sentimento de domínio que o ser humano traz dentro de si desde que surgiu como espécie.

Como disse Jimmy Hendrix: “O dia em que o poder do amor for maior que amor pelo poder o mundo encontrará a paz.”

   Embora eu seja uma pessoa otimista, que procura ver o lado bom da vida e acredita que ainda existem seres humanos altruístas, muitas vezes sou tomada por um ceticismo que desconstrói todo o meu sentimento anterior de crença na humanidade.

    Em outros momentos, porém, eu penso que se eu buscar a minha própria paz naturalmente estarei em paz com os que estão ao meu redor.

    E como eu posso conseguir alcançar este estado existencial? Fazendo coisas que me dão prazer: orando, lendo, escrevendo, ouvindo música (como esta que estou ouvindo agora, profundamente relaxante), interagindo com os amigos, estando ao lado das pessoas que amo. Encontro a paz quando me permito parar por alguns instantes o que estou fazendo para contemplar o dia, para escutar o som da natureza e ver os pássaros que sempre pousam no meu quintal. Também posso ser solidária com alguém que precise de mim, material ou moralmente. Se eu respeitar as escolhas e o modo como as pessoas vivem, se eu evitar discussões desnecessárias, se eu souber ouvir mais, se eu não me meter na vida dos outros, se eu não disseminar informações falsas que prejudiquem as pessoas, enfim, há muitas maneiras de buscar e encontrar a minha paz.

    Sempre que ouço Gilberto Gil cantando “a paz invadiu o meu coração, de repente me encheu de paz, como se o vento de um tufão, arrancasse os meus pés do chão, onde eu jã não me enterro mais...” penso que é essa a paz que todos nós precisamos encontrar: a paz interior. Já que não conseguimos exterminar com as guerras do mundo, que a gente consiga vencer nossas guerras interiores.

 

                                                                                                   Jô Coelho (19/06/2024)

 

 

 

 

Jorgenete Pereira Coelho
Enviado por Jorgenete Pereira Coelho em 19/06/2024
Código do texto: T8089340
Classificação de conteúdo: seguro