A ABÓBORA DE ESTIMAÇÃO

Parece até mentira a história que narro a partir de agora, mas é a pura verdade, eu vi. Já tem mais de quarenta anos que aconteceu, eu era uma criança ainda e me esqueci alguns nomes e detalhes.

Meu pai nasceu em Vassouras, estado do Rio de Janeiro, no distrito de Massambará, em uma fazenda, de onde saiu para trabalhar em Volta Redonda, também no estado do Rio.

Um belo dia fomos visitar minha tia, que morava em um sítio em Massambará e durante a conversa, surgiu a lembrança do lugar onde eles nasceram, uma fazenda, do outro lado da BR que corta a região, da qual não me lembro o nome. Meu pai resolveu nos levar para conhecer aquele lugar especial para ele, onde viveu toda infância e parte da adolescência candeando bois e roçando o pasto. Fomos.

Chegamos lá e o que vimos foi de cortar o coração, a casa, sede da fazenda, caindo aos pedaços e os dois proprietários, acho que primos do meu pai, pareciam dois mendigos, não deixaram que entrássemos na casa, aliás não permitiram muito trânsito pela propriedade, que, como a casa, estava com as instalações caindo aos pedaços. Meu pai contou algumas histórias sobre a vida dele ali, os dois homens, maltrapilhos como só, não nos davam a menor atenção, só cercavam nossa caminhada, nem água nos ofereceram! E assim foi a visita.

Quando nos preparávamos para ir embora, meu pai viu no chão uma aboboreira carregada de abóboras, lindas! Então que se deu o ápice da visita, e dessa história, que virou um causo de família. Meu pai pediu a um dos irmãos, acho que se chamava Miguel, que lhe desse uma abóbora, ao que o maltrapilho senhor respondeu: "não posso"; meu pai perguntou por que, e pediu que lhe vendesse uma, a resposta foi a melhor de todas: "a abóbora é de estimação". Meu pai ficou chateado, mas levou na esportiva. Contava isso para os amigos enquanto tomava umas e ria para valer da abóbora de estimação.