SAUDADE DO CAREQUINHA

A morte é coisa esquisita. Vai depositando, pouco a pouco, terra sobre certas lembranças pra tornar tênues algumas imagens, alguns sons, alguns cheiros. Deve ser algum tipo de defesa do nosso inconsciente pra não sofrermos tanto com as perdas. Ou, quem sabe, os novos eventos do cotidiano, por mais frugais que sejam, vão brigando pra ocupar o seu espaço, afastando sem pedir licença aquilo que, outrora, nos foi tão importante.
Já fez 5 anos que o Ricardo Boechat morreu (11 de fevereiro de 2019).
Com a pandemia, a palavra óbito ficou mais tangível, sabermos que mais alguém morreu de Covid-19 acabou se tornando triste rotina.
Adorava escutá-lo na Band News todas manhãs e ancorando o jornal da Band.
Um cara do bem, sempre de bem com a vida, de linguajar simples e que fazia o que um jornalista deve fazer com maestria.
Quando soube que era uma das vítimas da queda do helicóptero, chorei.
Não lembro disso ter acontecido comigo com outra pessoa que não fosse da família.
Deixei de ouvir religiosamente a Band News por uma razão: quando é hora do José Simão entrar, o Megale o anuncia de um jeito parecido como o querido carequinha fazia.
Isso me incomoda, porque é como se tivesse usurpado algo que era "marca registrada" do Boechat.
Entendo que ele (Megale) quer fazer uma graça, é pleno direito dele, mas pra mim soa como algo chato, inconveniente até.
E por conta disso, a Band News perdeu um assíduo ouvinte de muitos anos.
Talvez seja esse o meu jeito de prestar uma homenagem ao saudoso "amigo" que nunca tive o prazer e privilégio de conhecer pessoalmente, "protestando" assim e dizendo pra mim mesmo que o seu lugar nunca será ocupado por outra pessoa.
Nunca mesmo.

Oscar Silbiger
Enviado por Oscar Silbiger em 19/06/2024
Reeditado em 21/06/2024
Código do texto: T8088832
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