A LAMA QUE NEM A NÓS ESPERA

Todas as coisas tão caóticas nelas mesmas, eu poderia tentar resolver. Todo o mundo tão gigante e envolto de um mistério ainda maior, eu poderia desvendar. Todas as nuances das línguas ou a sequência da matemática ou os problemas da engenharia ou o ciclo da história, tudo eu poderia controlar. Nada poderia me escapar. Nada poderia me vencer. Eu poderia, se existisse presente no futuro do pretérito. Eu até conseguiria, se eu não fosse tão humana quanto comum e tão simples quanto corriqueira.

Identifiquei-me com a lógica e as ciências exatas. Identifiquei-me com a razão e com a vocação. Identifiquei-me comigo mesma para que eu não me perdesse na identificação dos outros. Hoje, ainda que insegura, ansiosa e inquieta, eu me identifico com meu acervo pessoal.

Na paz dos outros, o conflito que eu travei foi de não ser igual, mesmo sabendo que de diferente nem o nome. Na voz dos outros, a inconsistência que coexiste com a minha opinião. Minha e só minha! Tudo poderia facilmente ser meu, se não existisse todas os seus e deles e nossos e vossos. Quando eu tiver que não mais ser eu e identificar-me comigo, a vitória será do excepcional e quando eu não puder mais querer mesmo não conseguindo ditar, aí sim, eu estarei desapontando o caos.