OS DETALHES DA SIMPLICIDADE

Será que já disseram tudo sobre todas as coisas? Esmiuçaram os quatro cantos da vida revelando detalhes das minúcias e dos restolhos? Não tem ainda o viver tanto a ser apontado, descrito, definido, falado? Por acaso alguém lembrou dos esquecidos apinhando lugares por onde quase os outros ninguéns transitam?

Sim, percebo o quanto nos restringimos ao óbvio e fechamos nossos olhos e atenção para os relegados, os muitos à margem de tudo. Ademais disso, é forçoso dizer, cerramos os olhos às pequenas coisas, as quais por vezes são realmente tão valorosas. Olvidamos a percepção da raridade sob o tapete da humildade. Declinamos da simplicidade terminando por nos deleitar apenas na obviedade do visível, ou ao que tendemos promover maior enfoque por razões nem sempre plausíveis.

Quem romantizou os passarinhos enfileirados sobre o fio de energia da rua em vista do desmatamento desenfreado? Alguém já deitou o olhar sobre os garis trabalhando na coleta da sujeira humana no período da madrugada enquanto dormimos? Qual bom samaritano se preocupou em contar os famintos da cidade, visitou velhinhos abandonados em asilos pobres, sentou ao lado daquele próximo solitário acomodado e triste aqui ou ali nas praças melancólicas?

Precisamos nos lembrar dos esquecidos e das paisagens lindas bem diante de nós, pelas quais passamos talvez diariamente carregados de indiferença. Porque é com o todo formador da existência que devemos caminhar. Estão todos lá, não vão desaparecer num passe de mágica. Se estão entre nós é em virtude de fazerem parte do conjunto. Ainda não foi falado nem escrito o âmago, a fatia do tudo, as borboletas e os milhares de fragmentos da invisibilidade permanecem bem ao pé de nossos olhos, esperando ser vistos, descritos e acolhidos.

Gilbamar de Oliveira Bezerra
Enviado por Gilbamar de Oliveira Bezerra em 18/06/2024
Reeditado em 18/06/2024
Código do texto: T8088600
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