Uma grande vitória em um simples empate
O relógio marcava pouco mais de quatro da tarde quando a bola rolou no gramado da Neoquímica Arena, mas em minha sala, o jogo já havia começado muito antes. A preparação foi cuidadosa, quase ritualística: as camisas tricolores dobradas com carinho, os lanches preparados com esmero, e o meu sofá, em casa, arrumado para acomodar dois pequenos torcedores ao meu lado. Deborah, com seus oito anos, e Jesseh, com seis, ambos com TEA (Transtorno do Espectro Autismo), e Deborah também com Síndrome de Down, pareciam sentir a energia diferente daquele dia.
O que poderia parecer uma simples partida de futebol para muitos, para mim era um evento aguardado com uma ansiedade disfarçada de esperança. A televisão ligada no volume certo, nem tão alto para assustar, nem tão baixo para não perder o entusiasmo dos narradores, criou um ambiente acolhedor e propício. Não era só um jogo; era uma ponte, um elo a ser construído entre nós três.
Quando o São Paulo fez o primeiro gol, meu coração disparou. Não apenas pela emoção do futebol, mas pela reação dos meus filhos. Seus olhos brilhavam, e um sorriso brotou nos rostos que tanto amo. Deborah bateu palmas com um entusiasmo contagiante, enquanto Jesseh pulava, acompanhando o ritmo do coração tricolor. Naquele momento, o resultado do jogo pouco importava. A verdadeira vitória estava ali, na sala de estar, materializada na alegria compartilhada.
O Corinthians empatou, e os ânimos voltaram a se ajustar e diminuir no ambiente. A tensão era palpável, mas os olhares atentos dos meus filhos me mantinham sereno. Eu sabia que eles estavam experimentando algo novo, um sentimento de pertencimento, de torcida, de unidade. Quando São Paulo marcou novamente, comemoramos como se fosse o gol do título. E, para mim, de certa forma, era.
Mais um gol do Corinthians, e o jogo se encaminhou para o fim com o empate selado em 2 a 2. Mas, hoje, eu ganhei muito mais do que um ponto na tabela. Ganhei a alegria compartilhada, a sensação de que, por alguns momentos, a complexidade do mundo se dissolveu na simplicidade de uma comemoração conjunta.
Ver Deborah e Jesseh comemorando comigo foi como sentir que, apesar dos desafios diários, a felicidade está presente nos pequenos momentos. E naquele fim de tarde, ao lado de dois pequenos e novos grandes torcedores, senti que o São Paulo, com sua história de superação e glória, refletia um pouco da nossa própria jornada.
A vitória, afinal, não estava no campo, mas nos sorrisos em casa, em cada palma batida, em cada pulo de alegria. E, enquanto as luzes do estádio na televisão se apagavam, meu coração permanecia iluminado, celebrando uma vitória que, para o mundo, poderia parecer pequena, mas que, para nós, era grandiosa. Amo vocês, Deborah e Jesseh, e que venham muitos outros majestosos (São Paulo x Cortinthians) para muitas outras comemorações a três.