DOMINGO AGRADÁVEL
Estava num domingo que se podia nominá-lo de agradável.
Em pleno verão nordestino, próximo ao mar, aproximadamente a 500 metros de distância, a brisa entrando pela porta da varanda, provocando variação de temperatura, com o termômetro anunciando que lá fora estava a 28°C e sensação térmica de 32°C, enquanto aqui dentro assinalava o delicioso efeito dos 23°C.
Meu olhar se deleitava com o céu azul salpicado de brancas nuvens, com as águas multicores do mar e a branca espuma das suas águas arrebentando nas areias da praia. Os verdes das poucas árvores que margeiam a avenida ao lado fazem-se de divisa entre o apartamento e o mar. Assim se completava a pintura deste meu domingo.
Pode-se, de fato, afirmar que estava num domingo agradável. Um silêncio revestia a sala. Tomei a decisão de desarrolhar um TARAPACÁ 2021, Cabernet Sauvignon. Da estante da biblioteca saquei o Mulheres, de Charles Bukowiski (um daqueles livros com a literatura que seria, se publicado lá pelos idos da primeira metade do século XIX, proibida às mocinhas e esposas nas tradicionais famílias com pais e maridos sexistas.)
Estava eu dentro do silencioso domingo agradável onde, vez por outra, entravam uns harmoniosos sons de pássaros visitantes da varanda do apartamento. Ali eles encontram, sempre, o que comer. É o cachê deles pelos seus cantares.
Mas, como na vida não há somente o Céu, um pouco de inferno conseguiu furar a bolha do agradável domingo, na forma de sirenes de alarme de algum prédio vizinho. Explodia, dava uma pequena trégua e novamente se fazia presente. Cessava... O céu voltava a imperar pelos gorjeios. Explodia...
O Tarapacá dava os seus últimos suspiros em direção à morte; o céu, as nuvens, o mar arrebentando-se em espumas brancas recebiam novos tons do invisível pintor, e os verdes em seus balanços permaneciam. As sirenadas, como soluços intermitentes, vomitando suas invejas, persistia em desfigurar a pintura do meu domingo agradável.
O Mulheres voltou à estante.