Sinecura - As rainhas e o poder

Sinecura(1)

Tenho receio das interpretações que podem dar para o uso deste termo pejorativo, da forma como pretendo associá-lo. Entretanto, nem sei se é a primeira vez para este tipo de caso mas que é bem aplicável, creio que é. O termo é incomum e a maioria das pessoas não gostam de ler textos com palavras fora de seu vocabulário. Desse modo, vamos falar sobre as rainhas da sinecura do país, um tema que deveria ser do interesse de todos, mas não é.

Em primeiro lugar, a definição mais abrangente e com detalhes que todos deveriam ter em mente.

Sinecura

Uma sinecura (do latim sine, "sem" e cura, "cuidado") é um tipo de emprego ou função, quase sempre em cargo público, e

que praticamente não requer responsabilidade, trabalho ou serviço ativo. Historicamente, as sinecuras servem como

instrumento de poder dos governantes, que as concedem em troca de favores políticos. Neste sentido, vincula-se também

à prática do nepotismo. Embora sinecuras não exerçam qualquer poder político de facto, podem possuir poder de jure.

Em alguns governos, como o do Reino Unido e Canadá, as sinecuras possuem um caráter oficial de honraria, e como tal, são

concedidas a políticos ligados ao governo.

Fonte: Wikipedia

Assim sendo, posso receber acusações diversas com este texto: machismo, sexismo, preconceito, assédio e outros tantos. Decerto, será mais uma grande injustiça pois tenho a certeza de que estou emitindo apenas uma opinião. É provável que muitas carapuças cheguem até o umbigo e o ódio, a ignorância e o rancor destas redes sociais sempre fala mais alto.

Assim seja !

SINECURA "SOLTEIRA"

O país precisa de reformas de verdade ou de construção de coisas novas. Chegamos num estado de coisas que estão destruindo muitas coisas boas e lustrando absurdos seculares.

Por outro lado, entendo que, se alguma coisa tem previsão legal, quando se torna anacrônica deve ter revogação ou extinção. A sociedade muda e evolui, portanto as imoralidades não devem se perpetuar como uma coisa normal.

É como dizia Tim Maia e Kafunga: "não pode dar certo" ou é o país onde "o certo é errado e o errado é certo".

A sinecura das filhas de militares que, criminosamente, mantêm-se solteiras para continuarem recebendo polpudas pensões é imoral. Aliam-se a estas rainhas da sinecura, as filhas de deputados e outras profissões que usurpam do erário de maneira acintosa. Desta forma cria-se uma casta de beneficiárias quase eternas, dentro da legalidade, mas em completa imoralidade.

UM PESO E DUAS MEDIDAS

Um país em que o Poder Legislativo promove uma reforma(*) mantém a benesse para mulheres que mentem que são solteiras, numa imoralidade secular.

Não existe justiça (a propósito, o Poder Judiciário é um símbolo da sinecura aplicada) que tenha medidas diferentes para situações similares. Uma sociedade que aceita a precarização do trabalho, mas que pratica o salve-se quem puder está apodrecendo. E aqueles que aplicam o "farinha pouca, meu pirão primeiro", e se calam diante destes "privilégios" oligárquicos, são déspotas.

Nossa sociedade adoeceu e as pessoas ficam buscando dar um jeitinho, ignorando o coletivo e praticando seu hedonismo pueril e oco. O mundo acabou e muita gente não se deu conta, até porque surfam nas mamatas e boquinhas. E, surpreendentemente, aqueles que apontarem fatos que corroboram este status doentio de nosso país, sofrerão muitos ataques.

RAINHAS NO PODER

Existem casos que quando vão a público chocam as pessoas (perfis) de redes sociais. Entretanto, estes casos, quando expostos na mídia, revelam apenas uma pontinha do iceberg.

Trabalhei com uma pessoa nesta condição, filha de militar que recebia a pensão do pai e mantém um casamento não oficial. Com toda a certeza, se sofresse uma investigação e processo, receberia uma condenação e teria que devolver tudo que recebeu indevidamente.

Contudo, nem um constrangimento falso ela emitia, quando o assunto ia para a mídia, a frase estava pronta: "Não faço nada ilegal". Uma servidora pública federal, que vivia em regime similar ao casamento, e acha isso legal, não sabe o que é ética e moral. Portanto, não é nenhuma referência de civilidade ou de humanidade o que estas sinecuras praticam.

O PODER DA SINECURA

Este absurdo vem desde o Marechal Deodoro da Fonseca, certamente "legislando" em causa própria ou de seus comparsas. Não tenho certeza e nem quero ir lá atrás, na história de um país de vices golpistas da Res Pública(2), para ter argumentos. Atualmente, vemos vices militares defendendo regalias e outras formas de corrupção sendo enaltecidas pelo Judiciário.

Em suma, um país que mantém estas pessoas, especialmente filhas "solteiras" numa sinecura eterna, não pode dar certo. Como se não bastasse, agora até "ministras" que usufruem desta imoralidade recebem louvores, em verso e prosa, da mídia.

Já somos um Reino Unido de primeiro mundo há muito tempo, Reino Unido e Canadá não chegarão aos nossos pés nunca.

Haja ignorância, e idolatria a malvadões e genocidas favoritos !

APATIA GERAL

Desde que houve a Proclamação da República em 1889, o país tem vivenciado sucessivos ciclos de avanços e retrocessos. No entanto, um aspecto constante tem sido a dificuldade em engajar a população em discussões sérias sobre questões cruciais, como a sinecura.

A sinecura, junto com outros problemas estruturais, como a corrupção e a ineficiência administrativa, é um dos maiores desafios para uma democracia efetiva. No entanto, muitos brasileiros demonstram apatia em relação a esses temas. Diversos fatores contribuem para essa atitude, incluindo a influência das pregações religiosas e discursos diversionistas que dominam as redes sociais.

Esses discursos frequentemente desviam a atenção do público de questões políticas essenciais, promovendo uma espécie de alienação coletiva. Em vez de discutir políticas públicas, reformas estruturais ou a necessidade de uma governança mais transparente, o debate necessário se perde. Inquestionavelmente, a discussão se fragmenta em polêmicas superficiais ou assuntos que, embora relevantes, não deveriam ocorrer. Muitos temas essenciais deveriam monopolizar a atenção pública em momentos específicos e não em detrimento de outros temas críticos.

Por exemplo, questões como aborto, uso de maconha, manipulação nas redes sociais, não deveriam "sumir" a cada diversionismo.

PREGAÇÕES E INFLUENCIADORES

A influência das pregações religiosas na política brasileira passa por um processo de negligência altamente perigoso. No Brasil, onde a fé está na vida de muitos cidadãos, líderes religiosos usam de sua posição para influenciar a opinião pública. Embora a participação ativa da sociedade civil seja fundamental para a democracia, estas influências confundem a mente das pessoas.

Desta forma, o desafio agiganta-se quando essa influência se torna um obstáculo para o debate racional, sem fake news, sobre questões públicas.

Em face desse cenário, é imperativo que a sociedade brasileira se conscientize da importância de debater seriamente questões como a sinecura. Certamente, muitas outras práticas que minam a eficiência e a moralidade da administração pública também devem merecer reflexão.

A apatia política é um terreno fértil para a manutenção do status quo e para a perpetuação de práticas nocivas ao país.

EDUCAÇÃO CÍVICA

Enfim, o problema estrutural parte da falta de uma educação cívica - nada a ver com a "Moral e Cívica" da ditadura.

Para que esse debate se torne mais efetivo, é necessário promover a educação política e cívica. Assim sendo, incentivar os cidadãos a se informarem, adquirirem conhecimento e participarem ativamente do processo democrático.

A mídia, as escolas e as organizações não-governamentais têm, sem dúvida, um papel crucial a desempenhar nesse processo. Atualmente, as plataformas digitais deveriam ser parceiras, fornecendo informações precisas e promovendo discussões abertas e inclusivas.

Além disso, é vital fortalecer as instituições democráticas, garantindo que elas sejam transparentes e responsáveis. A população deve sentir que sua participação tem um impacto real e que suas vozes recebem respeito e atenção. Somente assim será possível combater a apatia e incentivar um engajamento mais profundo e crítico em relação às questões políticas.

Em suma, a história republicana do Brasil deveria nos ensinar que a apatia política e a influência de discursos diversionistas foram nocivos.

Perdemos muito tempo em debates e manifestações estéreis, bem ao modo que as oligarquias guiam a democracia tupiniquim.

Você conhece algum caso de sinecura? Como você se posiciona nestes casos, finge que não é com você e vai cuidar da sua vidinha?

P. S.

(*) Temer e seus correligionários, à serviço das oligarquias, promovem uma reforma trabalhista criminosa e desonesta.

(1) "Sinecura - As rainhas e o poder" em https://evandrooliveira.pro.br/wp/2020/02/04/sinecura-as-rainhas-e-o-poder/

(2)  "Res pública - De Floriano a Temer" em https://evandrooliveira.pro.br/wp/2016/05/12/res-publica-de-floriano-a-temer/