Um homem de valor
Moro na região dos Jardins e frequento a rua Oscar Freire (Ícone da moda e estilo da classe alta paulistana). Como escrevo e publico livros de maneira independente: muitas vezes faço as vendas boca a boca nesta conceituada rua.
Sempre sou bem recebido, e confesso que vendo mais que as livrarias onde exponho meus livros.
O dia estava morrendo. O sol cedia seu lugar ao anoitecer. Concentrado nas vendas nem percebi a lua e as estrelas que cobriam o céu paulista. Então me aproximei de um jovem senhor sentado na mesa de um pequeno restaurante. Fiz uma abordagem educada, como sempre: oferecendo um desconto para que ele adquirisse o livro.
Surpreendentemente ele, não só afirmou que pagaria o valor integral, como levaria dois.
E, demonstrando grande interesse, iniciou uma conversa, indagando como surgia as minhas ideias. Em resumo, disse a ele, que no decorrer da vida, a gente acumula os melhores e os piores momentos de nossas vidas no inconsciente. E quando um escritor se propõe a colocar suas ideias no papel, seguramente algumas delas emergem para o consciente, impulsionadas pelas que se acumularam neste grande e secreto cofre – chamado inconsciente: preenchido dia e noite por tudo que experimentamos no decorrer dessa nossa longa caminhada.
Foi uma conversa curta, mas agradável. Autografei os livros, e sentindo segurança no caráter daquele jovem senhor, passei a chave do meu pix e fui embora, nem mesmo pedi confirmação.
Chegando em casa, ao verificar minha conta bancária, uma tremenda surpresa: Ele tinha feito um pix no valor, correspondente a dez vezes, o valor do livro. Um jovem senhor que provavelmente sabe as dificuldades de um autor independente no Brasil, onde poucos valorizam a cultura, pensei!
Obrigado, Sr., morador da linda cidade de Recife. Pena que não sei como encontrá-lo novamente, para lhe dar um forte abraço de respeito e agradecimento. Porque seguramente conheci um Homem de valor!