CRÔNICA DE UM LEÃO NA JAULA

Que nem um leão enjaulado indo e vindo sem parar em busca da sanidade. O animal, coitado, não sabe nem entende a razão de estar preso num espaço tão exíguo, urra furioso, estruge seu protesto aos quatro ventos, quer a liberdade de volta. Não eu, o cárcere do qual sou cativo tem alguns metros quadrados a mais, meus clamores se escondem na alma, vou e venho para lá e para cá sem furor, a dor que sinto é outra, falo com as paredes, vislumbro além através das janelas, choro baixinho e converso com o espelho.

Ainda assim metaforicamente sou leão e prisioneiro, mesmo levando no bolso a chave da liberdade da jaula onde estou. Diferente dele saio quando quiser, o que nunca é frequente porque no exterior sou tanto aprisionado quanto na minha própria jaula. A fera não teve escolha, caiu no laço do caçador desalmado, porém a mim coube decidir o destino pretendido, sendo justamente a partir desse ponto que tropecei e caí no laço suave do amor. Pelo menos inicialmente imaginei que fosse, e no entanto esse sentimento às vezes é mais cruel que o ódio se for enganoso.

Amor com tamanho requinte de punhalada deveria ser crime tipificado no código penal, penalizando a autora com muitos anos de reclusão. Bah, quão pobres meus devaneios! O melhor lugar para românticos e poetas viverem é a lua sem dúvidas. É possível que lá não existam malícia nem leões caçados ou homens enjaulados por caírem no laço do amor vazio.

Gilbamar de Oliveira Bezerra
Enviado por Gilbamar de Oliveira Bezerra em 16/06/2024
Reeditado em 16/06/2024
Código do texto: T8086957
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