CRÔNICA DE UM LEÃO NA JAULA
Que nem um leão enjaulado indo e vindo sem parar em busca da sanidade. O animal, coitado, não sabe nem entende a razão de estar preso num espaço tão exíguo, urra furioso, estruge seu protesto aos quatro ventos, quer a liberdade de volta. Não eu, o cárcere do qual sou cativo tem alguns metros quadrados a mais, meus clamores se escondem na alma, vou e venho para lá e para cá sem furor, a dor que sinto é outra, falo com as paredes, vislumbro além através das janelas, choro baixinho e converso com o espelho.
Ainda assim metaforicamente sou leão e prisioneiro, mesmo levando no bolso a chave da liberdade da jaula onde estou. Diferente dele saio quando quiser, o que nunca é frequente porque no exterior sou tanto aprisionado quanto na minha própria jaula. A fera não teve escolha, caiu no laço do caçador desalmado, porém a mim coube decidir o destino pretendido, sendo justamente a partir desse ponto que tropecei e caí no laço suave do amor. Pelo menos inicialmente imaginei que fosse, e no entanto esse sentimento às vezes é mais cruel que o ódio se for enganoso.
Amor com tamanho requinte de punhalada deveria ser crime tipificado no código penal, penalizando a autora com muitos anos de reclusão. Bah, quão pobres meus devaneios! O melhor lugar para românticos e poetas viverem é a lua sem dúvidas. É possível que lá não existam malícia nem leões caçados ou homens enjaulados por caírem no laço do amor vazio.