A freira e seu segredo

A freira e seu segredo

Ela estava à beira da morte. Resolveu contar um segredo que guardou por mais de sessenta anos.

- Lá, pelos meus quinze aninhos, apareceu em nossa paróquia um jovem padre, muito bonito e simpático. Eu ia à missa todos os domingos e fiquei perdidamente apaixonada por ele.

- E ele sabia dos seus sentimentos? – Perguntou seu Godofredo, com quem a freira se dava muito bem.

- Não, ele não podia ficar sabendo. Eu então tive uma ideia inusitada, decidi ser freira. Meus pais não se opuseram, pois eram católicos ferrenhos e nunca desconfiaram da minha decisão repentina.

- E daí? – Perguntou seu Godofredo, nervoso.

- Estudei bastante para me tornar freira rapidamente com a intenção de, no

momento oportuno, me transferir para a paróquia em que ele estivesse trabalhando. Lá, eu iria ver o que poderia acontecer.

Tornei-me freira, numa linda cerimônia em que meus pais participaram com a maior alegria e orgulho. Alguns dias depois, li uma manchete no jornal que me arrasou.

Respirou meio fraca e, triste, continuou:

- “Padre Justiniano tem relações libidinosas com dois meninos de sua paróquia e é expulso da Igreja”. Desse dia em diante, passei a amar com mais afinco Aquele que passou a mudar a minha vida, meu querido Jesus Cristo. Rezo até hoje pelo arrependimento do Padre e espero que ele seja feliz no rumo que tomou. Seu Godofredo, desde que conheci o senhor e sua família, rezo para que continuem em paz e nas graças de Deus. Hoje, eu vou ao encontro Dele e espero que Ele tenha me perdoado e me aceite junto a Ele.

No rosto de seu Godofredo, homem forte, porém com coração bondoso, correu uma lágrima, e ele só conseguiu dizer:

- Assim seja. Vá com Deus!

E a freira deu o último suspiro.

Aroldo Arão de Medeiros

03/12/2006

AROLDO A MEDEIROS
Enviado por AROLDO A MEDEIROS em 16/06/2024
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