O trajeto diário

Mais um dia de trabalho.

Acordo atrasado e apressadamente tomo banho, engulo o café da manhã.

Despeço-me de minha mulher e minha filhinha.

Vou correndo ao ponto para pegar o ônibus. Quarenta minutos depois, quando o ônibus chegou, a quantidade de pessoas no ponto já dava pra encher dois.

Mas enfim, entrei no ônibus fartamente lotado, tão lotado que permaneci o trajeto inteiro com os braços paralisados, ciente que eram tantas pessoas ocupando o mesmo espaço que era difícil movimentar-se.

Quando chego ao serviço, parece que já trabalhei o dia inteiro.

Entro no meu departamento, e falo:

_ Bom dia! Afinal de contas, não deve-se perder a boa educação.

_ om.. ia..! Foi um bom dia tão sem vontade que parece que estou trabalhando com zumbis.

_ Direciono-me à minha mesa e inicio meu dia de trabalho, tanto coisa para digitar...que... meu amigo....é melhor iniciar logo.

Oh meu Deus! O teclado não está funcionando. Abro rapidamente ordem de serviço e, enquanto não chegam, aproveito para organizar meus papéis e, para minha não surpresa, por livre e espontânea pressão, passei a manhã inteira ouvindo os adoráveis problemas e negativismos da minha colega de trabalho.

Não pensem, por favor, que eu não tenho paciência com meus colegas. Mas essa mulher é demais, eu até tento ajudá-la, mas a cada vez que falo algo positivo para animá-la, ela encontra quatro negativos, e, depois de uma hora escutando-a, sinto-me com se estivesse carregando dois sacos de cimento nas costas. Mas temos que ser pacientes, né?

Quarenta minutos após o concerto do teclado, minha chefe cobra-me os papéis digitados e pede-me para ser mais ágil, quando explico a ela o ocorrido e ouço:

_ Acha que não te vi de conversinha a manhã inteira, e agora vem com desculpas.

Final do expediente. Ansiosamente despeço-me dos colegas.

Dirijo-me ao ponto. Mais quarenta minutos de espera, pego o ônibus e, de tão cansado, dormi e nem vi o trajeto.

Chego em casa e sinto como é bom estar em casa.

Minha mulher sorri-me; eu beijo minha filha. Prazer indescritível de estar em casa.

Tomo banho; assisto tv enquanto janto; converso com minha mulher e vou dormir, afinal: amanhã será um novo dia.

Terça-feira, acordo, despeço-me de minha mulher. Estou atrasado, espero 45 minutos....

Manoel Fagundes