Farpas digitais

No vasto mundo das redes sociais, um universo paralelo onde vidas se entrelaçam e sentimentos se revelam, há um jogo sutil e intrigante que muitos observam com curiosidade misturada a uma pontinha de desilusão. É nesse espaço virtual que as pessoas parecem trocar indiretas/diretas direcionadas como se estivessem escrevendo cartas abertas, mas sem destinatário direto, claro além de uma plateia ávida por entretenimento.

 

Nesse circo digital, o espetáculo das emoções se desenrola. Vejo pessoas expressando sentimentos, ou talvez o oposto disso, de forma tão velada que é como se estivessem encenando um drama sem script definido. Uns revelam o que sentem de forma tão transparente que é quase como abrir o peito e mostrar o coração ainda pulsante; outros, porém, preferem manter suas dores e alegrias guardadas, apenas dando pistas através de mensagens cifradas que mais confundem do que esclarecem.

 

O que mais intriga não é a exposição em si, afinal, as redes sociais são feitas para isso: para compartilhar. O que causa certo desconforto é a falta de coragem para um diálogo direto, para uma conversa adulta olho no olho (ou tela a tela, no caso). Em vez de se comunicarem de forma franca e direta, como pessoas maduras e conscientes de suas próprias emoções, preferem lançar mão de subterfúgios e rodeios, como crianças que trocam insultos em uma briga de playground: "que vença o melhor."

 

Essa encenação virtual de sentimentos contraditórios e desencontros emocionais me faz pensar em como aprendemos, desde pequenos, a lidar com nossas emoções de maneira tortuosa. Aprendemos que mostrar vulnerabilidade é sinal de fraqueza, que admitir sentimentos pode ser interpretado como falta de controle. Assim, escolhemos o caminho mais fácil, o da indireta, do recado enigmático, da crítica camuflada em elogios dos poemas mal escritos em forma de reposta para o outro, do desabafo poético carregado de verdade, do intrigante "escrever para que o outro saiba que é para ele."

 

 

Enquanto observo essa dança das máscaras nas redes sociais, não posso deixar de desejar que um dia todos nós possamos encontrar a coragem necessária para sermos verdadeiros conosco e com os outros. Que possamos aprender a comunicar nossos sentimentos de forma clara e direta, sem medo do julgamento ou da exposição. Que possamos deixar de lado as farpas digitais e trocar o jogo de sombras por uma luz sincera e transformadora.

 

No fim das contas, o que é mais inesquecível na vida não são os momentos em si, mas sim a forma como escolhemos lidar com eles.

 

Caro leitor, veja bem, nem sempre as redes sociais são o melhor lugar para escancarar quaisquer tipos de sentimentos, muito menos deixar recados tolos nas entrelinhas do não dito, para que o alvo certo leia e entenda o recado. Ainda prefiro o diálogo olho no olho ou tela a tela.

Luna Gaspariny
Enviado por Luna Gaspariny em 15/06/2024
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