Frutos da Terra
"Periquito está roendo o coco da guariroba
A chuvinha de novembro amadurece a gabiroba
Passarinho voa aos bandos em cima do pé de manga
No cerrado é só sair e encher as mãos de pitangas
Tem guapeva lá no mato
No brejinho tem ingá
No campo tem curriola, murici e araçá
Tem uns pés de marmelada
Depois que passa a pinguela
Subindo pro cerradinho, mangaba e mama-cadela
Cajuzinho quem quiser é só ir buscar na serra
E não tem nada mais doce que o araçá dessa terra
Manga, mangaba, jatobá, bacupari
Gravatá e articum, olha o tempo do pequi...
Frutos da terra, do chão de Goiás..." Marcelo Barra
Essa música do Marcelo Barra é o retrato do lugar onde morei quando criança!
Naquela época, Matinha não tinha mais que vinte casas. Era uma pequena corrutela, hoje, periferia da grande Goiânia. Havia um armazém, uma pequena capela com uma pracinha de chão batido, duas ruas e um campinho de futebol. Na beira da estrada que passava ali, havia um galpão onde as mulheres descascavam mandioca para o feitio da farinha. Além das lavouras, essa era uma das raras atividades remuneradas do lugar. Ali vivi bons momentos da minha vida! Mas o que trago vivo em minha memória eram os frutos silvestres dali. Quantas vezes saí com meus irmãos para o campo colher gabiroba, mama-cadela, guapeva, ingá... O cajuzinho do cerrado era azedo, mas minha mãe fazia dele um doce que dava água na boca. No quintal de nossa casa tinha muitas mangueiras onde os periquitos e outros pássaros faziam algazarra e se fartavam com as delícias dos frutos!
Depois de muitos anos, voltei no lugar! Tudo está diferente! A corrutela virou cidade; o cerrado deu lugar às pastagens! Em nome do progresso, o homem modifica a natureza sem se preocupar com a própria história. Só nos resta dar asas à imaginação e recordar!!!
Ranon de Amorim Machado