A culpabilização da vítima
Há um tempo atrás, assisti a uma novela mexicana chamada Entre el amor y el odio - que aqui ficou com o título No limite da paixão - e acabei me interessando por uma das tramas paralelas. Nela, uma jovem, conta a vontade da tia - que a tinha criado como filha - vai trabalhar como cantora em uma boate. A certa altura, em um momento que não lembro bem, um dos personagens da trama a estupra e ela vai pedir perdão à tia, dizendo que aquilo tinha ocorrido porque ela tinha sido desobediente e ido trabalhar em uma boate.
Esta história não me saiu da cabeça porque me fez pensar em um dos traços mais marcantes da cultura machista: a culpabilização da vítima de estupro. Quando uma mulher sofre violência sexual não falta quem diga que foi por causa da roupa que estava usando, porque foi fácil, oferecida, etc. No caso da novela, ficou parecendo que a moça teve culpa porque foi cantar em uma boate.
Nada a ver. Estupro pode acontecer com qualquer mulher, independentemente da profissão que segue. O fato de uma mulher seguir uma profissão "honesta" não a protegerá de um estuprador. Além disso, vale citar que os países com os maiores índices de estupro são aqueles onde as mulheres andam vestidas dos pés à cabeça, como a Índia, o Paquistão e países muçulmanos.
Ver a novela só me fez pensar em quando eu sofria bullying na escola e outras pessoas diziam que a culpa era minha por causa do meu jeito. Na verdade, culpa a vítima de uma violência é bastante comum e não passa de um recurso para eximir um agressor da responsabilidade por seus atos.