Chuvas de Março
Naquela manhã, o dia amanhecera choroso! Era uma chuva fina que caía desde a madrugada, sem parar. O dia todo ia ser assim.
No fim da tarde, o tempo prometia uma tempestade medonha. O céu escurecera de repente e uma forte ventania iniciava um espetáculo que se repetia todos os anos nessa época. O vento varria as folhas ferozmente, as árvores se dobravam como se fossem ser arrancadas pelas raízes. Em seguida, o céu chorava como nunca, e uma chuva torrencial lavava e levava tudo, com voracidade. Melhor mesmo era ficar em casa. As águas do córrego Capivara que cortava a parte baixa da cidade de Nerópolis, em pouco tempo se tornavam um rio caudaloso, alargando suas margens, levando tudo que encontrava pela frente. Animais e árvores passavam boiando como se fossem brinquedos nas mãos de uma criança. A ponte da saída velha de Anápolis ficava quase submersa e à sua volta troncos e garranchos encalhavam, formando uma cachoeira no meio do leito. Era uma imagem dantesca e, ao mesmo tempo, bonita de se ver. Era a chamada Enchente de São José.
Depois de tudo, vinha a calmaria. Uma semana de uma chuva fina, leve, quase uma garoa. Era como se a natureza lamentasse o estrago que fizera dias atrás.
Ranon de Amorim Machado