UMA MISSA CONFORTÁVEL
Havia muito tempo que eu não ia a uma missa. Nem me lembro quando foi a última vez, acho que antes da pandemia. Contudo, semana passada fui convidado a assistir uma missa celebrada a pedido de uma família enlutada. Missa de ano de falecimento.
Eu me animei a ir a tal ato religioso e me perguntava se eu ainda sabia responder àquelas perguntas do padre, como por exemplo na saudação quando o padre diz:
- A graça de nosso Senhor Jesus Cristo, o amor do pai e a comunhão do Espírito Santo estejam convosco.
Os fieis muito contritos respondem na ponta da língua:
- Bendito seja Deus que nos reuniu no amor de Cristo.
Na verdade, eu já andei muito em igreja, até já cantei em coral de igreja; porém, os afazeres profissionais me fizeram ficar delas distante e, em certas ocasiões, notadamente em casamentos de amigos e parentes eu aceitava o convite, não iria fazer uma desfeita, contudo, via de regra, me postava lá pelos fundos, bem perto da porta da rua, não vendo a hora da cerimônia acabar para ir aos comes e bebes e para jogar conversa fora.
Mas desta vez não. Era uma manhã chuvosa, eu entrei na igreja e me sentei, até porque após esse tipo de cerimônia nada acontece mais que choros e olhos vermelhos, e eu não podia ficar em pé feito uma estátua, poderiam até me confundir com um santo, e isso seria uma confusão um tanto herética.
Quando me sentei não senti o pau duro em minha bunda. Eu falei bunda! Nádegas, para ficar mais bonitinho.
É que quando eu pensava em ir à missa, sempre me lembrava que teria de ficar por volta de uns quarenta minutos sentado em um banco duro, super desconfortável, fato que sempre me desanimou.
Porém, dessa vez não. Sentei-me em um banco macio e fiquei muito feliz. Logo lembrei que o padre podia pedir que ajoelhássemos e conferi o genuflexório. Tudo acolchoado: assento e genuflexório. Aí foi que eu me lembrei que estava em uma igreja de burgueses, estava na igreja da Vitória, e os ricos não podem sofrer qualquer desconforto, mesmo que seja para louvar a Deus Pai todo poderoso criador do céu e da terra, de todas as coisas visíveis e invisíveis.
Porém, não fica por aí meus estranhamentos.
Eu que estava preocupado com as respostas ao padre, me senti despreocupado quando ele disse:
- Em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo.
E mais que depressa, uma voz que até parecia a voz de Deus, se apressou em dizer.
- Amem.
E foi assim por toda a missa o padre falava e Deus respondia imediatamente, e todos os fiéis ficavam calados, não davam um pio.
Vejo que agora ficou bem confortável para os católicos ricos assistirem a missa. Nada de sacrifícios, afinal sacrifício é para os pobres.
Igreja de ricos é outra coisa. Mas eu ainda prefiro rezar em casa.