SINTO FALTA DO LALAU
O mundo está tão decadente e sem graça que me lembrei de Stanislaw Ponte Preta, pseudônimo de Sérgio Porto, jornalista, humorista, teatrólogo, etc, que faziam deste profissional, um dos mais brilhantes humoristas que já tivemos. Denunciava o ridículo, e o bizarro através de suas crônicas, frases e causos. Na década de 1960, criou em plena ditadura militar o Festival de Besteira que assola o País (Febeapá).
É em sua homenagem que vou contar um causo que ocorreu com um amigo que foi confirmar uma consulta com um fonoaudiólogo pela primeira vez. Entrou numa vibe estranha e não sabe bem as razões do ocorrido. Pode ser que tenha sido confundido com uma pessoa amalucada, ou foram as diferenças entre bairros da zona norte e da zona sul. O fato é que a conversa pelo zap foi bem estranha.
O amigo queria tirar dúvidas sobre o endereço que marcava a rua e o número sem especificar lojas ou andares: “era de um edifício ou casa?” A atendente explica as razões da ausência de detalhes: “é uma loja de rua”. O outro insiste “loja de rua pode ser camelô ou barraquinha”. A pendência continua, e como é familiar aos cariocas, a funcionária atua como se estivesse diante de uma pessoa “meio fora de órbita” por insistir nas explicações que para ela eram óbvias. Começou a se comportar como se falasse com um imbecil “o senhor vai achar direitinho, não se preocupe”. Mas nem se importou com referência a lugares próximos ou ponto de ônibus ou metrô... Chegou a enviar uma imagem da fachada com o logotipo da empresa para não se perder de jeito nenhum... O homem continuou e falou das ruas de Copacabana com suas transversais e exemplos de lojas no térreo, mas que dispunham de numeração. Nada adiantou e desistiu de tirar dúvidas.
No dia seguinte parou no meio do caminho da enorme Av. N.S. de Copacabana e foi andando até chegar a um prédio que tinha no térreo várias lojas à frente da rua principal e na rua transversal. O primeiro obstáculo foi superado. Entrou na loja e foi conferir se seu nome estava agendado. Não estava. Ela teve de dar novamente e a empregada interfonou para o fonoaudiólogo que confirmou. A explicação foi que a atendente que recebeu sua chamada pelo zap tinha marcado o seu nome para a filial da Tijuca.
Quem afinal estava “fora de órbita”? A primeira atendente sequer percebeu que o cliente falava de Copacabana, e pior, com uma pessoa que era bem informado sobre este bairro. Como diria o baiano:” quem era o abestado”? Obrigou o cliente a andar mais do que devia, subestimou a sua inteligência. Se fosse eficiente acabaria por perceber que estava marcando a consulta para outro bairro. Neste caso poderia ter demissão ou pagamento de multa por incapacidade profissional. Este episódio é a prova que já descemos tão baixo em escolaridade da população e falta de respeito ao outro, que já não entendemos os diálogos entre os habitantes desta cidade.
Trata-se de hábitos e costumes que diferenciam um bairro do outro, ou do velho chavão do preconceito? Prefiro voltar a citar o saudoso Lalau: “‘Ódios Inconfessos’: puxa-saco, militar metido a machão, burro metido a sabido e, principalmente, racista”.