À espera de socorro
À espera de socorro
Se você não fuma, é um desespero. Seu carro ficou sem gasolina. Você se fu...
Coitado.
O rádio sintoniza aqueles papos chatos entre locutor, que parece que está sempre feliz com o mundo, e o participante do programa, que acredita na felicidade do mesmo. É um baba-ovo impossível de se ouvir por mais de cinco minutos. As propagandas que desfilam nas ondas sonoras é uma enganação de arrepiar. Todos os produtos são os melhores do planeta.
As lojas anunciadas sempre oferecem as ofertas dos seus sonhos. O atendimento é perfeito, de primeiro mundo, e os preços, os menores possíveis. O apresentador sempre lhe desejando um bom dia.
Infeliz de você.
Esse não pode ser um dia qualquer.
Você está à beira da rodovia, com frio, fome e ouvindo músicas próprias para um velório. Em outras situações elas se tornariam audíveis e algumas até boas.
O celular não encontra linha e os carros passam velozes sem se aperceberem que você existe.
As aves que sobrevoam o céu cinzento são urubus agourentos.
Não sei se são conhecidas como aves de mau agouro por comerem somente carniça ou por nascerem brancas e se tornarem pretas.
Você sai do carro e o vento fica mais forte fazendo-o desanimar cada vez mais.
Uma garoa começa a se formar e você quer chorar e não consegue. Você volta para o interior do veículo frio, insensível e espera o tempo melhorar um pouco.
Quando isso acontece já foi mais de uma hora. Graças a Deus a garoa e o frio diminuíram de intensidade e você pode pedir ajuda novamente.
Naquela autoestrada infinita, seus gestos não são notados pelos ocupantes dos veículos que velozes, lhe parecem felizes.
Lá vem um viandante, maltrapilho e com barba por fazer. Para ele, você é mais um que não entende a solidão e a tristeza que carrega durante anos. Ele nem olha para você e consequentemente nem o cumprimenta.
O lugar em que está parado se chama Três Árvores. Já que não tem coisa melhor para fazer, procura as três árvores que deram nome àquela localidade. Existem muitas árvores, mas as três solitárias não aparecem.
Depois de duas horas naquele sofrimento um carro para a fim de socorrê-lo.
É um anjo? Não. Ele conta que já ficou naquela situação e sabe o quão é horrível.
Leva-o até o posto de gasolina. A volta é uma outra aventura...
Tenho pena de você, e cada vez fica mais evidente quando eu sei que o você sou eu.
Aroldo Arão de Medeiros
22/04/2013