Poema

De repente a gente se dá conta que perdeu algo, uma ingenuidade, um amor puro e intocado pela vida, seus cansaços e percalços. Ninguém jamais me disse que a vida seria fácil para mim; muitíssimo pelo contrário, sempre houve uma forte honestidade - inclusive em demasia - sobre como as coisas iriam transcorrer para mim. Tendo a cor que tenho, no país em que vivo, nunca houve espaço para o cinismo e a fantasia, a realidade sempre foi mais cortante que o fio da navalha.

Mas acredito que há um abismo entre saber do corte e senti-lo, nos últimos meses, tenho sentido o corte da inocência. Havia, até pouco tempo, uma certa pureza e encanto, uma clareza de que a vida seria somente em tons de outono, que o bem sempre prevaleceria e que as coisas teriam de ser boas por um destino natural que se impõe diante de nós. E não é que deixei de acreditar nessas coisas, mas é que subitamente você descobre que a vida não é bem assim.

Pra alguém que nunca viveu de cinismo e fantasia, isso, definitivamente, se mostrou uma fantasia. Se acostumar com a realidade é difícil, adequar a visão ao mundo real me parece um pouco do Neo, do clássico Matrix, descobrindo que seus olhos doem porque nunca foram usados. Dói observar que as pessoas são somente pessoas, e que não há deuses e deusas nessa dinâmica social. Todos somos humanos. Não somos iguais. Alguns, inclusive, são mais iguais do que outros.

Tenho chamado esse momento de “a temporada ruim”, uma semana, um mês, um bimestre em que tenho me esforçado mais para estar bem, que tenho entrado mais em mim para me entender e saído quando necessário para encontrar apoio e suporte nos meus. Talvez não seja nada demais, talvez eu só esteja cansado e um pouco frustrado. Talvez eu esteja ansioso. Talvez eu espere mais, porque acho que mereço mais, e nem sempre o mais chegue no momento que eu quero. Talvez crescer seja aprender a lidar com essas frustrações do ser.

Hoje, é difícil.

Amanhã vai ser melhor.

Amanhã eu vou ter sorte.

Não, melhor… hoje eu tenho sorte.

Não serei Poliana, abraçarei as angústias, porque só assim, respeitando-a, conseguirei dar vazão à esperança e fazer com que todos os sentimentos coexistam dentro de mim.

Hoje eu tenho sorte.

Amanhã vai ser melhor.

Hoje, eu escolho olhar a vida como um poema. Respeitando a tristeza, aguardando o mais, amando a esperança.

Atravancando meu caminho,

Eles passarão

Eu passarinho!

Pedro H Ribeiro
Enviado por Pedro H Ribeiro em 12/06/2024
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