Solidão à vista - BVIW

Tema: pouca comunicação

 

Vou ao restaurante e observo a mesa ao lado. Um casal, ambos mexendo no celular, quase o tempo todo, até quando chega o prato que pediram. Na mesa de frente, uma turma de amigos, moças e moços. Todos ao celular, enquanto conversam de vez em quando. Não ouço uma risada, apenas sussurram. Mas sãos moços, não devia haver mais alegria? Lembrei que já fui assim, deixei que o celular ocupasse grande espaço na minha vida. Foi preciso levar um grande golpe, quase mortal, para aprender. Custou-me o casamento. Hoje, eu e meu companheiro estamos nos curando desse mal. Combinamos de não usá-lo na cama, quando vamos nos deitar; não usar na mesa de restaurantes, nem nos barzinhos; evitar o uso quando estamos na companhia um do outro. Essa restrição tem dado bons resultados. Descobrimos que podemos contar casos, conversar mais e até ouvir o silêncio. Descobrimos que a comunicação do amor é mais prazeirosa, que o toque físico nos aproxima. Assistimos a mais séries ou filmes, ótimo aprendizado. Sabe o que precisamos redescobrir? O prazer de visitar um parente ou um amigo. Visitar mais os pais e os irmãos. Visitar o asilo, o hospital, o presídio. Doar o nosso tempo e nossa atenção. Viver, de verdade, a vida, enfrentando também o que há de ruim, como os conflitos interpessoais, superando-os. As amizades virtuais são assim: desfazemos amizades quando nos contrariam. Descartamos os outros, como se jogássemos o lixo na lixeira. E depois, fica fácil reproduzir isso na família ou no grupo de amigos. Sabem qual o risco que corremos? Um futuro sombrio e frio chamado solidão.

Cassia Caryne
Enviado por Cassia Caryne em 12/06/2024
Reeditado em 12/06/2024
Código do texto: T8084304
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