Lições de um trabalho braçal
A circunstâncias da vida são mais fáceis quando são apenas teorias.
Não há nada mais educativo do que um trabalho braçal pra ensinar a valorizar o serviço alheio.
Um bom exemplo, é como parece simples ao vermos os trabalhadores de coleta de lixo. Correndo atrás do caminhão de coleta com várias sacolas nas mãos. Num pique de fazer inveja.
E bem fácil assistir esse trabalho, quando estamos dentro do carro com o ar condicionado ligado no máximo.
E esses trabalhadores correndo debaixo de um sol escaldante. É um trabalho essencial para a saúde pública e conservação das cidades. Porém é realizado em condições insalubres, desumanas e mal remuneradas.
Mas parece que ninguém vê, existe uma grande tolerância com o sofrimento alheio. Acredito que seja vestígio de uma sociedade que aceitou a escravidão por muito tempo.
É no mínimo curioso como as "leis" de trânsito são tolerantes com a insegurança desses trabalhadores, visto que se alguém for pego sem cinto de segurança, é infração grave. Já os coletores de lixo viajam dependurados, de pé, na traseira dos caminhões e os riscos parecem não serem notados.
Só conseguimos entender a real dificuldade de um trabalho quando colocamos a mão na massa e fazemos.
Dias atrás resolvi fazer uma poda em um pé de graviola que tenho no quintal, as recordações estão em minhas mãos até hoje. Parecia muito simples, comecei cedo. Gastei meio dia pra terminar. Mas não foi tão fácil quanto parecia, no meio do trabalho, já exausto e com vários calos nas mãos e alguns cortes, pensei em desistir, parei pra refletir... Eu terminaria, custe o que custar, mas confesso que arrependido de ter iniciado aquilo.
É fácil entender o valor do trabalho quando é o seu suor, o seu sangue que sai nos cortes, a sua mão que toda calejada ainda dói dias após o esforço que não está habituado.
Me senti como um lenhador americano, até a barba estava grande pra dar vida ao estereótipo da imagem.
É mais fácil nos filmes, é mais fácil quando não cai nenhuma gota de nosso suor sagrado. É mais fácil quando não somos nós que precisamos limpar a bagunça.
Minhas aventuras domésticas me fazem entender, que em muitos casos, é melhor pagar alguém pra fazer. E saber que está pagando por um trabalho que requer muito esforço.
Nada é tão fácil quanto parece.
Um dos benefícios do bom e velho trabalho duro, é aprender valorizar as pessoas que sobrevivem por meio dele. E saber também que ainda que possam parecer invisíveis, existem muitas pessoas que trabalham duro pra manter toda a sociedade da forma que conhecemos.
Aprender a defender a dignidade desses trabalhadores é motivador.