UM PASSO ATRÁS
Nossa classe política não tem mais jeito mesmo, e consegue ainda nos surpreender, mesmo depois de tantos anos de armações ilimitadas.
A pauta de urgência dessa semana agrega interesses múltiplos, envolvendo diretamente toda corte parlamentar, independente do partido, opção sexual ou qualquer outra variável vinculada à nobre casta.
Se dependesse apenas deste argumento já teríamos uma adesão maciça de parlamentáveis. Agora, tem muito mais gente importante a ser beneficiada por este inoportuno projeto de lei, a turma do colarinho branco, a bandidagem assumida e nosso digníssimo capitão golpista.
Se aprovado, e parece que as cartas estão literalmente marcadas para que isso aconteça, cai por terra uma estratégia, que tem contribuído, e como, para solucionar variada gama de crimes.
A nova lei proíbe terminantemente delação premiada ou não de meliantes ou não, que estiverem com sua liberdade momentaneamente cerceada, ou melhor, encarcerado.
Parece piada de salão, mas é a realidade de momento, invalidar de uma vez todas as delações anteriores. Só a título de curiosidade, dois crimes bárbaros, como os cometidos contra a vereadora carioca Mariele Franco e seu motorista, que só foram resolvidos depois da prisão dos autores, que posteriormente entregaram os mandantes, claro, sob a pressão do cárcere. Se ainda estivessem soltos, não iriam dar com a língua nos dentes.
O mesmo vale para o ajudante de ordens do capitão golpista, o militar Mauro Cid, que só abriu o bico, depois de encarcerado, e com sua colaboração, peças que faltavam para completar o quebra cabeça de alguns crimes, foram finalmente encontradas.
Por outro lado, essa necessidade de urgência de votação da matéria, visa proteger nossa elite política de problemas futuros com a lei, pois não basta a tal da impunidade parlamentar, eles pensam sempre no pior, e delações podem vir a estragar suas reputações.
Interessante relembrar que mais uma vez mostram que estão em Brasília para legislar em causa própria, como se já não bastasse toda mordomia inerente ao cargo, que lhes permite inclusive definir quando e de quanto será o reajuste de seus proventos.
Provavelmente ouviremos tanto na Faria Lima, como nos morros cariocas a comemoração com direito a foguetório num caso, e requintados jantares do outro, essa ação tão bem coordenada pela classe política.
A se lamentar, apenas essa hipocrisia das duas casas legislativas, que passam por cima de uma série de pautas importantes para a nação, priorizando essas ações de favorecimento a grupos restritos.
Mais uma vez ficamos reféns dos interesses escusos desses nossos supostos representantes no planalto central.