Lar de idosos III
E a filha foi visitar a mãe no Lar de idosos onde a tinha deixado dois dias antes.
A mãe estava bem. O efeito dos remédios fortes já haviam passado. Estava se alimentando bem. Bebendo água. Tomando suco. Comendo um tipo de pão que jamais havia aceitado comer quando estava em casa. A mãe gostava de um pão específico, de um lugar específico. E era o que a filha comprava. O café também era de uma marca específica... e bem quente e bem doce, na sua mesma xícara de porcelana, sempre.
Agora já era um café qualquer, morno e sem açúcar (na clínica evitavam ao máximo o açúcar). Um café ralo numa caneca de plástico... a filha não conseguia imaginar como ocorrera aquela transformação.
Conversou com uma cuidadora que lhe disse que a mãe só pedia pra ir pra casa... e a cuidadora lhe dissera que quando estivesse bem restabelecida voltaria. Então a mãe cumpria todas as ordens. Iria se restabelecer o mais rápido possível. Iria voltar para casa... líquido e certo.
E tudo bem, para a filha. Se a mãe realmente voltasse a caminhar normalmente. Aceitasse andar com o andador que a filha havia comprado. Comesse bem. Aceitasse uma cuidadora ou uma enfermeira em sua casa pra lhe cuidar... tudo bem voltar pra casa...
A mãe só reclamou com a filha, nessa primeira visita, do banho. Não queria cuidador a lhe dar banho. Que fosse uma mulher. A filha acertou esse detalhe.
Voltou pra casa aliviada. Tudo parecia estar entrando nos eixos. Tudo iria ficar bem.
Nas câmeras a mãe parecia estar perfeitamente entrosada com os outros moradores do Lar... Vendo de fora, a filha, que morava sozinha, até sentiu uma pontinha de inveja de ver aquele vai e vem de pessoas conversando... fazendo atividades recreativas... ouvindo músicas. A filha estava fechada na solidão dela mesma. Só no mundo.