Lúcido sonho
Uma noite, eu me lembro, uma intensa dor me fez sair de mim, dos pés para a cabeça. Esse meu eu, como num passe de mágica, foi ganhando o espaço e, dali de cima onde me encontrava, fitava meu corpo caído, sem vida. Tudo parecia um sonho, mas era um sonho tão real, palpável, como se as cenas passassem em torno de mim. Esse meu eu não tinha forma física, mas os contornos humanos se apresentavam num diáfano ser iluminado, quase transparente, e via, sentia e percebia tudo. Nesse instante, a sensação era inexplicável, agradável, extasiante. A vontade era de ficar ali para sempre e não mais voltar. Uma voz macia, aveludada, prazerosa, me chamava para que eu saísse dali e ganhasse a imensidão dos céus. Um túnel de luz jazia nas alturas à minha espera. No entanto, nada acontece sem a vontade de Deus. Aquele corpo ali caído chamava por mim e uma força maior dizia que eu devia voltar. E assim, da mesma forma como havia saído, esse eu iluminado volta para o corpo e eu recobro os sentidos. Foi um sonho bom.
Ranon Machado