LITERATOS "ANANINS" - SUBSÍDIOS PARA PESQUISA

LITERATOS "ANANINS" - SUBSÍDIOS PARA PESQUISA

"Escrever não dá camisa a ninguém"!

Da. APOLÔNIA (minha mãe / 2000)

Minha rotina diária é sempre a mesma: após o almoço, sento numa cadeira cheia de almofadas -- no meu quarto, de costas para a janela -- e me ponho a ler o jornal "Diário do Pará". Findo por cochilar, as folhas largadas no chão ou espalhadas no colo. Igual rotina segue meu irmão gêmeo... me sabendo ali, normalmente me acorda para que eu pegue algo que achou e que julga que irá me interessar: livros, revistas, um brinquedo antigo, um pendrive, qualquer coisa. Por minha vez, sigo outra "rotina": a de me irritar com tal intromissão no meu momentâneo sossego ! Ontem recusei-me a levantar para pegar 1 livro velho, quase todo mofado, despedaçado em boa parte. Geralmente joga na minha cara ou sobre o peito, eu acordo julgando ser o dia do Juízo Final. Desta vez a "rotina" dele mudou: poz o objeto no parapeito da janela e, ao acordar, encontrei belo "tesouro": "A LIRA NA MINHA TERRA - Poetas Antigos e Contemporâneos no Pará" -- de CLÓVIS MEIRA, de 1993, autografado ainda por cima.

Tenho certo pavor das tais "Noites de Autógrafos"... nossa obra, impressa com suor e sacrifícios "vai pro lixo" em pouco tempo, por vezes DADA a um "amigo da onça" ou DOADA para escola ou Biblioteca. A coletânea gaúcha da qual participei lá por 1993 e que foi doada a Biblioteca Municipal, fui encontrá-la -- enquanto reciclador -- por volta de 2020 num "lixão" pavoroso bem perto de casa, atrás da Feira do 6.

Trago traumas da meia dúzia de noites de lançamento dos livros de "irmãos e irmãs de IDEAIS", escritores do meu círculo de amizade: 4 ou 5 ou 10 exemplares vendidos, os 295 ou 490 outros "enterrados" debaixo da cama até o fim dos séculos.

Meu amigo "Baiano" não suportou a decepção: na mesma fatídica noite cortou pulsos e garganta, a esposa acordando apavorada com o "gargarejo"na cozinha, ele às portas da morte. A Editora apressou-se a postar Nota nos jornais eximindo-se de qualquer culpa; até pagou as despesas do hospital. Conversei com a esposa, para poder entender aquela sandice: "revisaram" (?!) o livro inteiro retirando -- à revelia do autor -- o nome da empresa que patrocinava a obra, citada em quase todas as páginas. Foram além: mexeram até no título, "deturpando-o", na visão do escritor iniciante. (Deixo este depoimento como forma de esclarecimento !)

"Baiano" teve a genial idéia (?!) de lançar sua obra não no recinto sagrado da APL -- costume geral de quem escrevia -- mas na Estação das Barcas, ao lado do Ver-o-Peso e quase às escuras na época, 1989. Por uma coincidência macabra, a APE - Associação Paraense de Escritores marcou reunião de seus associados justo naquele dia e hora, a Academia de Letras, como sempre, ali pertinho, 400 metros, se tanto. Acovardado, passei às pressas pelo "Dom Quixote" -- isolado no "pier" com a esposa e filho(s) -- e fui "me enturmar" com os demais apeanos.

Triste sina: amadores da Escrita, éramos vistos como parte de um "zoológico": nunca entrávamos na Revista editada (suponho que) pela APL ou SECULT ("Voo da Palavra" ?!) que era de graça e, ao surgir a coletânea "MAROMBA" (com 2 ou 3 volumes), também ficamos "de fora", era muito cara para nossas poucas posses.

Juntei-me ao Carlos José LIMA (hoje Limma) e fundamos a "RE-VISTA PÔ-ÉTICA" -- título é dele, não me "culpem" -- lá por 1990, ele vendendo sua moto para quitar os 500 exemplares do número inicial. A "arraia-miúda" da APE (uns 60 dos 112 associados) não comprou o volume inicial e nem quiz participar do segundo número, este com a exclusiva "Entrevista com PAES LOUREIRO".

Foi o fim dos nossos sonhos... Lima não conseguiu retirar os outros 500 exemplares e duvido que a IOE(PA) tenha sequer 1 só número desta raridade absoluta, com "diagramação" e "rabiscos" (à guisa de desenhos) meus. Alguns poemas também, ainda me declarando poeta... "DE BELÉM" ! (Em tempo: a coletânea de 1987 da Rádio e TV CULTURA, -- "Concurso Literário FUNTELPA" -- com mais de 500 páginas é ótimo local para se pesquisar nomes de escritores "ananins".)

Recuperar a presença de escritores de Ananindeua em impressos (revistas, livros, jornais) será tarefa bastante difícil pois quem morava nesta "imensidade" que engloba hoje as Cidades Novas, o ex-40 Horas", o Jardim América, Jaderlândia, Lago Azul, Icuí, Guajará, trechos do Maguari e do Una era... DE BELÉM, enquanto Marituba e o bairro "Guanabara" pertenciam a Ananindeua. Contudo, tanto na seção "ESPAÇO ABERTO" do Diário do Pará (entre 1985 e 95, sob as bênçãos do jornalista Cléodon Gondim) como na seção de cartas de O Liberal, de página inteira, se publicavam poemas e crônicas dos leitores.

"ESCREVER é uma arte solitária", nem nossos parentes sabem que o fazemos; logo, "achar 1 escritor" é quase um milagre ! Quando o Grupo de "curiosos" da Literatura surgiu -- criado por Lucinerges Couto em 1987 -- apenas o jornalista Jorge Granhen e o fotógrafo Rufino Almeida (de Belém) nos registraram. Um certo Alencar era assessor de Comunicação do então prefeito Fernando Correa e andava "pra lá e pra cá" com imensa filmadora... mas, nada de nos registrar. Eron e Anestor uniram-se a um vereador, para produzir a primeira coletânea "ananin", isto lá por 1991/92: ficou-se "na promessa" !

Desconhecemos quem escrevia nos 50 ANOS iniciais de Ananindeua, mas os 30 atuais têm fotografias e registro EM ATAS e nos textos, no "Jornal de Ananindeua" e nos 3 (até 4) jornais da Capital. Eu publiquei onde vi chances... o radialista e deputado Thompson Mota editou revista particular: lá fui eu atrás dele ! Por ironia do Destino só não estou na imensa Antologia em 7 volumes (de 1992 até 1997 ? - a memória se recusa a me dar o título dela) devido a querelas com a diretoria da APE... meu material "não foi encontrado" !

Restou da estória várias páginas no Diário do Pará -- de março a julho/1989, se não me falha a estropiada memória -- entre este "Zorro" que "não se enxerga" e um ("sargento") Garcia "tomando as dores" dos maiorais apeanos. No "tiroteio" sobraram para mim os epítetos de "pascácio, de papalvo" e, para o "nobre articulista", o de "lavadeira" e "puxa-saco".

Três páginas manuscritas depois, vamos finalmente AOS FATOS: a primeira obra de que tenho notícia com algum escritor DE ANANINDEUA seria a (futura) coletânea organizada por volta de 1995/96 pelo cordelista João de Castro Ribeiro. Não cheguei a vê-la, nada sei sobre ela ! (*1) Portanto, por dedução lógica, a tal VANGUARDA -- título com que a alma gentil das jovens escritoras atuais nos brinda -- está na coletânea "A POESIA CONTEMPORÂNEA EM ANANINDEUA - A Poesia Urbana na Amazônia", lançada em fevereiro de 2008 no "Café Portela", ao lado do Conjunto residencial "Stélio Maroja" e organizada pelo ativista cultural Rui Santana, vulgo "Rui Baiano", mais um baiano no meu círculo de amizades, desde os tempos de capoeirista (1974/93). Rui me carimbou com um sonoro "POETA DAS RUAS", que adoro e me define perfeitamente.

Lucinerges citava muito o que seria um livro seu: "SEIOS VERDES" ! (Não sei se era apenas um conto.) A filha, LUANA COUTO, além de me informar que a Casa da Cultura de Marituba leva o nome dele, LC, me avisa que os "originais" do romance "PUCA-TI NGRO-TI" estão, em exibição para os visitantes. Resta saber quando Ananindeua irá HOMENAGEAR a pessoa que mais lutou para que nossa Cidade tivesse vida realmente cultural, além de bailes e bingos.

Além dos NOMES 1) em minhas crônicas, desde a inicial em maio ou junho de 1989... "Uma Reunião de idéias e ideais" (que foi texto no jornal DIÁRIO DO PARÁ, em 17/08/1989) (*2) temos também 2) AS ATAS das 4 ou 5 reuniões da ALA-A e a Ata oficial (em set./91 ?) da fundação com 21 ou 22 nomes de literatos locais (onde está ela ?) registrada no Cartório Falcão; temos ainda 3) na citada coletânea os nomes do candidato a vereador pelo PT Atnágoras Lopes, mais Nádia M. do Vale Costa, Emanuel Eric, "Mariazinha" (só isso !), além do "polêmico" Wilson Santos. Como 2 dos poetas não pagaram suas cotas, a tiragem do livro do Rui que seria de 250 exemplares "virou" apenas 100, distribuídos entre os autores. Duvido que exista algum livro por aí ! Todos esses poetas eram "autônomos", não estavam inscritos em nenhuma Entidade literária.

Wilson, Bombeiro militar na época, lançaria livreto próprio de bom nível ainda em 2008, porém não persistiu "na estrada". Seu comandante questionou meu Prefácio para a obra, lhe pareceu menosprezo ao autor. Argumentei que era "provocação", desafio... torcia para que WS continuasse poeta. Quinze anos depois o encontrei "peladão" no Facebook, o violão em "pose" sugestiva: "Wilson... DO ARROCHA" !

Não, ilustre leitor, caríssima leitora, não esqueci do livro lá na janela... vamos a ele ! Na página inicial temos 90 nomes de poetas, com apenas 6 mulheres entre eles (pag. 23); já no final há 4 ou 5 "capítulos" só citando senhoras, umas 30 ou mais, tudo superficial, por vezes apenas o nome. Para pesquisas, o valor maior do "livrão" (458 pags) é a citação de REVISTAS e jornais "de priscas eras", como se dizia muito antigamente.

Suponho que se deva "ignorar" os anos 1920/30, quando nossa Região era mero "distrito" vivendo em torno do Curtume Maguari. Creio que somente lá por 1970 -- já estruturada enquanto Cidade -- se teria uma vida cultural (literária, no caso) expressiva. Clóvis Meira "achou" um certo CARLOS NASCIMENTO... seria/será o cantor de forró & carimbó que conheci num belo sítio, perto do cemitério de Marituba, em 1988 ?! Clóvis "esqueceu" a biografia do gajo, não há 1 linha sequer sobre ele. Mas "ressuscitou" a famosa Revista "BRASÍLIA", do DF, claro ! Quase meia Belém figurava nela e seu Concurso Nacional de Poesia era muito disputado... me classifiquei num deles (por Belém, logicamente) com micropoema de 8 linhas, onde um Adão safado confessava "ter comido" a maçã, digo, a Eva, aliás, ambas. Eis uma publicação que certamente traz algum autor realmente "ananin". O Concurso Nacional "Raymundo Correia", muito concorrido -- me parece que de uma certa editora "CRYSÁLIS", carioca -- também produzia coletânea entre os "classificados" (quase todos) que PAGASSEM por sua participação.

Por ora é só, fico por aqui... o DOE - Diário Oficial do Estado (do Pará) tinha "Suplemento Cultural" (nos anos 1980) coordenado pelo poeta José Ildone, com revisão de Lucinerges Couto. Nele talvez encontremos autores "ananins" dos bairros de Marituba, Júlia Seffer, etc.

Felizmente, num registro de Rufino Almeida (lá por março ou maio de 1989, no auditório da Matriz de Marituba) está o Grupo inteiro criado por Lucinerges... resta saber quem conseguirá identificar TODOS ali. Meu amigo cordelista de alto nível Obdias Araújo -- atualmente em Macapá -- marcou presença, com pose de "gay", embora não fosse do Grupo literário. Talvez a poetisa Ivanilda Góes (que nunca citei antes) consiga fazê-lo !

"NATO" AZEVEDO (em 9/junho de 2024, 11hs)

OBS: (*1) - a memória senil "acordou" para recordar que o jornalista ORLANDO HENRIQUES -- do jornal(zinho) "CIDADE NOVA", com 30 anos de atividade -- lançou por volta de 1993/94 no Rotary Club da CN 8 seu livro de memórias. Aguardo mais informações do próprio Autor... é possível que escrevessem nele um ou outro Autor local.

(*2) abaixo, o link do citado texto na seção CRÔNICAS do portal cultural RECANTO DAS LETRAS. Acessem lá... NATO AZEVEDO. Há vários outros artigos sobre escritores de Ananindeua.

https://www.recantodasletras.com.br/cronicas/7105261